16.3.11

Costa do Marfim: os dioula aguardam a sua hora

No próprio dia em que o Presidente socialista Laurent Gbagbo tomou posse na Costa do Marfim, os jovens partidários do aristocrata de etnia dioula Alassane Dramane Ouattara começaram a avançar para o centro da cidade de Abidjan.
No ano a seguir, em 2002, os rebeldes com alguma simpatia por Ouattara e pela casta dos comerciantes dioula controlaram a parte setentrional do país, junto ao Burkina Faso.
As populações muçulmanas do Norte da Costa do Marfim, incluindo a aristocracia dioula a que pertence Ouattara, formado nos Estados Unidos com uma bolsa do Burkina Faso, consideram-se desde há uns bons nove anos claramente discriminadas pelo regime do historiador socialista Gbagbo.
Muitas daquelas populações fixaram-se ali porque a região lhes dava mais postos de trabalho do que as zonas situadas do lado de lá de uma fronteira há pouco criada e que nada tinha a ver com as realidades profundas de uma África de há 150 ou há 200 anos, antes de os europeus a terem retalhado segundo as suas conveniências.
Pessoas com antepassados no Burkina Faso, no Mali e no Níger constituem bem um terço de toda a população da Costa do Marfim, mas têm tido dificuldade em ver reconhecidos os seus direitos de cidadania.
Quando na década passada a economia começou a afundar-se, o Presidente Henri Konan Bedié tudo fez para que os mais altos cargos do país só ficassem nas mãos de quem já lá vivesse há várias gerações; excluindo portanto os descendentes dos imigrantes. Como se fez constar que seria o caso de Ouattara, oriundo de uma família patrícia dos tempos em que ainda não havia praticamente distinção entre o Alto Volta (hoje Burkina Faso) e a Costa do Marfim.
A instabilidade na Costa do Marfim tem vindo a prejudicar os investimentos e a confiança em toda a África Ocidental, onde se situam a República da Guiné, a Serra Leoa e a Libéria, entre outros países.
A França, antiga potência colonial, que ainda há alguns anos tinham 16.000 cidadãos na Costa do Marfim, gostaria porventura que Ouattara e Gbagbo se entendessem, no sentido de se formar um Governo de Unidade Nacional, favorável aos seus interesses comerciais.
Se assim não for, mantém-se de pé o fantasma de uma guerra civil que desde há meses é referido e que já fez com que 450.000 pessoas deixassem o território marfinense, a caminho de outros países da região, como a Libéria.
As próximas semanas dirão se Gbagbo cede finalmente às propostas de compromisso feitas por Ouattara ou se tudo continua caracterizado por um profundo impasse, sem que os comerciantes dioula e as grandes empresas gaulesas consigam fazer os seus ambicionados negócios. Jorge Heitor

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