31.12.11

Dezenas de pessoas detidas na Guiné-Bissau

Existem actualmente dezenas de pessoas detidas na Guiné-Bissau por motivos que se poderiam considerar políticos ou de alteração das ordem pública, mais de sete meses depois de uma missão militar angolana, Missang, ter sido encarada benevolentemente pela União Europeia e a CEDEAO. O sentimento optimista em Maio divulgado pelo boletim Africa Monitor decorria da ideia generalizada de que o principal objectivo da missão, promover a reforma das FA guineenses, seria "meritório".

Factores considerados então numa análise feita sobre o assunto:

- É do interesse geral uma estabilização política duradoura da GB (ainda considerada exposta a riscos devido ao protelamento da reforma das FA).

- Considera-se que a missão angolana dispõe de condições para vir a desempenhar um papel determinante na referida estabilização.

De acordo com a referida análise, o interesse com que Angola encara uma estabilização da GB, de preferência através de uma participação activa no processo, também é devido a razões de interesse próprio, entre as quais a criação de um clima propício à implementação de projectos económicos, como o porto de Buba e bauxites do Boé.

Um balanço positivo da Missang é igualmente visto pelos dirigentes angolanos como um factor capaz de conferir prestígio externo ao país e gerar influências – estas sobretudo no plano regional. Uma tal cenário atenderia a antigas lógicas da política angolana; serviria para fazer esbater o revés da Costa do Marfim.

O principal objectivo da missão, conforme "regras de empenhamento" respectivas, é o de garantir, nas suas diferentes fases, uma "boa execução" do plano de reforma do sector de Defesa e Segurança da GB, cuja parte mais melindrosa é a desmobilização e passagem à reforma de parte considerável do efectivo das FA.

O plano, delineado por uma missão militar e policial da União Europeia, e já aprovado, nunca chegou a ser posto em marcha por razões entre as quais avultam as seguintes:

- Resistências e/ou falta de colaboração dos militares, em especial chefes, comandantes e oficiais em geral, que a si próprios se consideram "alvo" do plano; reticências políticas e outras, internas, no tocante modelo de forças estipulado.
-------- Portanto, no país onde foram mortos Nino Vieira, Tagme Na Wae, Ansumane Mané, Veríssimo Correia Seabra, Helder Proença, Baciro Dabó e tantos outros, durante esta última década e meia, nenhum plano de normalização da vida pública foi ainda levado à prática. Tudo continua no mesmo marasmo de 1996 ou 1997.

Um ano de grande agitação no Iémen

ADEN, Dec 31 (Reuters) - Thousands of Yemenis began a 50 km (31 mile) march on Saturday to demand an end to a conflict which has forced nearly 100,000 people to flee southern Yemen, residents said, a day after seven militants were killed in fighting there with the army.

Up to 20,000 activists set out from the port city of Aden towards Zinjibar, the capital of Abyan province where the army has been battling Islamist militants suspected of having links with al Qaeda, residents said.

The marchers called on both sides to lay down their arms and demanded the government open the Aden-Zinjibar coastal highway, a key trade route which has remained closed during the conflict.

The militants and the Yemen-based regional wing of al Qaeda -- seen by the United States as the group's most dangerous branch -- have thrived during the instability caused by nearly a year of protests against the 33-year rule of outgoing President Ali Abdullah Saleh.

Top oil exporter Saudi Arabia, which shares U.S. concerns over more instability in a country sitting next to oil shipping routes, has backed a Gulf Arab plan to ease Saleh out of power.

Since Saleh handed over the reins to his deputy under the Gulf peace accord, a new government headed by an opposition leader has been formed. A presidential election is scheduled for February.

But the fighting against the Islamist militants in the south has continued, forcing about 97,000 people to flee. More than 300,000 others have been displaced by a conflict in the north and nearly 200,000 have sought refuge from Somalia, according to U.N. estimates.

29.12.11

Conflito Indjai-Bubo dura há bem mais de um ano

No fim de Agosto, fontes da Missão Militar Angolana na Guiné-Bissau
referiram à Voz da América que, após as reuniões do Conselho Superior de Defesa e Segurança, realizadas na Presidência da República, as chefias militares estariam a ser consultadas no sentido do afastamento do Chefe
de Estado-Maior da Armada, Bubo Na Tchuto.
Segundo a imprensa de Bissau, o processo, que estaria ainda na sua
fase preliminar, teria por base a recusa do Contra-Almirante em se
submeter ao processo de reforma do Sector de Defesa e Segurança,
actualmente em curso na Guiné-Bissau e cuja liderança pertence a
Angola.
Outro factor que teria contribuído para esta posição de força do Estado
Maior seria a atitude desafiadora que Bubo Na Tchuto assumira em reuniões na Presidência, recusando mesmo marcar presença em algumas delas.
O receio das potenciais consequências estava também a pesar para o relativo
secretismo que envolveu todo o processo, que culminou esta semana, com a detenção de Bubo.
Os últimos meses tinham sido férteis em boatos relativos à vontade de
Bubo Na Tchuto aproveitar a contestação ao Governo de Carlos Gomes Júnior para desencadear um novo momento de instabilidade política no país.
Qualquer pretexto serviria de trampolim para ele se tornar líder supremo das Forças Armadas guineenses.
A população de Bissau tinha há quatro meses, pelo menos, a noção clara de que a luta interna de poderes entre Bubo e o actual Chefe do Estado-Maior General, António Indjai, é real e perigosa, podendo lançar a qualquer momento a Guiné-Bissau numa nova espiral de mortes e violência entre quartéis desavindos.
As notícias desta última segunda-feira não foram, portanto, nenhuma grande novidade para quem nos últimos anos tem vindo a acompanhar o desenrolar dos acontecimentos em terra guineense.

Sanhá há mais de um mês ausente de Bissau

A presença de militares angolanos na Guiné-Bissau constitui uma "força de ocupação inadmissível", disse um porta-voz da oposição guineense.
Numa conferência de imprensa para reagir ao levantamento militar de Segunda-feira, os partidos da oposição da Guiné-Bissau acusaram o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, líder do PAIGC, de ter vendido "a sua alma" e recursos do país a Angola.
Falando em nome dos partidos da oposição, Victor Pereira disse ser "inadmíssivel" que o primeiro-ministro tenha sido resgatado da sua residência por "forças de ocupação estrangeira" provenientes de Angola.
O porta-voz fazia assim alusão às notícias que o chefe do governo guineense tinha procurado refúgio na embaixada angolana e que soldados angolanos teriam feito uso de armas de fogo para o proteger de insurrectos que tencionavam capturá-lo.
Angola mantém actualmente na Guiné-Bissau conselheiros militares como parte de um programa destinado a ajudar a Guiné-Bissau a reformar as suas forças armadas.
Para Vítor Pereira a alegada tentativa de golpe de estado registada na Segunda-feira é apenas uma "paródia" e uma "purga" do chefe do governo guineense contra os adversários políticos do primeiro-ministro, que contou com o apoio de Angola. Lassana Cassamá, Voice of America (VOA)
----

**** Note-se que o Presidente Malam Bacai Sanhá se encontra há mais de um mês hospitalizado em Paris e que o seu substituto teórico, o presidente da Assembleia, Raimundo Pereira, é pessoa de quem nem sequer se ouve falar.
O Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, general António Indjai, pode portanto fazer o que bem entender, perante a fragilidade do primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e de toda uma classe política que deixa bastante a desejar.
A Guiné-Bissau, recorde-se aqui uma vez mais, é um país que não o sabe ser. Um Estado ainda por consolidar, 38 anos depois da proclamação unilateral da sua independência pelo PAIGC, de Luís Cabral e Nino Vieira. JH

28.12.11

Militares e coca continuam fortes na Guiné-Bissau

O Presidente da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá, declarou em Julho do ano passado, de forma inequívoca, que o país “não é propriedade privada dos militares”. Mas a verdade é que tudo continua a ser como se o fosse.
Na sequência de um relatório do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, a pedir profundas reformas na defesa e na segurança guineenses, Sanhá denunciou então o peso excessivo das Forças Armadas e a implicação de alguns dos seus elementos no narcotráfico.
Naquela que foi considerada pela AFP uma tomada de posição rara num país dominado pelos militares desde que a sua independência foi reconhecida por Portugal em 1974, o Presidente disse ter terminado o tempo da subjugação do poder político ao militar.
“O país não pode ficar para sempre refém das Forças Armadas”, sublinhou o chefe do Estado no início de uma reunião do Conselho Superior da Defesa Nacional.
A Guiné-Bissau “está cansada de sobressaltos”, declarou Sanhá, perante o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, António Indjai, que no dia 1 de Abril de 2010 afastou pela força o anterior detentor do cargo, almirante Zamora Induta.
O Presidente nunca falara de uma forma tão virulenta desde que fora eleito, em 2009, quatro meses depois do assassínio do seu antecessor, João Bernardo Nino Vieira.
A gota de água que aparentemente fez extravasar o copo da sua paciência foi a agressão selvática de uma agente da polícia de trânsito por soldados a mando de um filho do general Indjai.
“Quem quiser dedicar-se ao narcotráfico deve ser excluído das Forças Armadas. O tráfico de drogas deve acabar neste país!”, afirmou Malam Bacai Sanhá, referindo-se a um comércio que tanto tem envolvido políticos como militares.
Um grande silêncio acolheu estas palavras, depois das quais a imprensa foi convidada a abandonar a sala, para que os trabalhos do Conselho Superior da Defesa Nacional prosseguissem à porta fechada.
No dia 3 de Julho do ano passado, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) lamentara o pouco progresso da Guiné-Bissau na luta contra a impunidade, pois que ainda nem sequer levou a julgamento os assassinos de Nino Vieira e de outras personalidades que foram mortas no ano passado.
O país é tido pela Autoridade Internacional de Controlo de Estupefacientes como uma “grande plataforma para o narcotráfico” que passa pela África Ocidental, sendo ponto de passagem da cocaína que da América Latina é encaminhada para a Europa.
As Nações Unidas calculam que a cocaína que entra mensalmente no território guineense corresponde ao PIB anual de 304 milhões de dólares.

27.12.11

A propósito da violência religiosa na Nigéria

A Nigéria, com mais de 160 milhões de habitantes, é tudo menos homogénea. Da zona da savana à dos pântanos, das planícies de Sokoto ao Delta do Níger, é todo um vasto mundo em ebulição, com surtos de violência que de vez em quando chegam a causar centenas de mortos.

Jorge Heitor

Mais de 100 línguas e muito mais dialectos originaram perto de 380 modos de comunicação entre os cidadãos do mais populoso dos países africanos, em vias mesmo de se tornar um dos mais populosos do mundo, com provável assento permanente, a médio prazo, no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A Nigéria, dos haússas, dos fulas, dos yorubas, dos ibos e de tantos outros povos, com um crescimento de 6,6 por cento no seu Produto Nacional Bruto (PNB), tem estado muito conturbada desde que, em 2011, o sulista Goodluck Jonathan foi eleito Presidente, para suceder a um homem do Norte que falecera antes de acabar o seu mandato.
Jonathan terá de aplacar a ira de todos os muçulmanos das terras setentrionais; e de enfrentar a constante agitação social que se sente num país cujo PNB por habitante não ultrapassa os 1.570 dólares, sendo portanto inferior ao de Marrocos, da Líbia ou da África do Sul.
O conflito que tantas vezes tem sido ali associado ao facto de um pouco mais de metade dos nigerianos serem muçulmanos e perto de metade cristãos anda em certa medida relacionado com o facto de os primeiros desejarem alargar a ainda mais estados a aplicação da Sharia, "a lei islâmica ideal", que já vigora nos de Zamfara, Kano, Sokoto, Katsina, Bauchi, Borno, Jigawa, Kebbi e Yobe. E que está a ser parcialmente aplicada nos de Kaduna, Níger e Gombe.

O caso Boko Haram

Uma das grandes dores de cabeça da Nigéria actual é a seita Boko Haram, que vagamente se poderia traduzir por "a educação ocidental é um pecado". Trata-se pois de um grupo islamista, ou fundamentalista, que reivindicou a responsabilidade por um ataque às instalações das Nações Unidas na capital federal, Abuja; ataque esse em que morreram 18 pessoas, no dia 26 de Agosto último.
O Congresso dos Estados Unidos começou nas últimas semanas a prestar mais atenção ao terrorismo nesse autêntico gigante negro que é a Nigéria, assombrada pelo desejo que o Boko Haram tem de aplicar a Sharia a todo o território, fazendo assim a ponte da Al Qaeda no Maghreb Islâmico (AQMI) com as minorias muçulmanas dos Camarões e da República Centro-Africana.
Um proselitismo religioso poderia fazer com que o Islão se impusesse com mais força em todas as terras situadas entre o Estreito de Gibraltar e o Golfo da Guiné, colocando inclusive em risco os cristãos de países como a Costa do Marfim e o Ghana.
O congressista republicano Patrick Meehan, da Pensilvânia, afirmou em Washington que o grupo violento Boko Haram constitui uma ameaça para os interesses dos Estados Unidos. Tal como o bispo católico de Maiduguri, no estado nigeriano de Borno, já disse à Agência Fides que a seita se encontra ligada à AQMI, a rede terrorista fortemente implantada na Mauritânia, no Mali e no Níger, de onde os seus tentáculos poderão descer até às proximidades da linha do Equador.
Uma vez que o combate das forças federais nigerianas aos activistas da Boko Haram nem sempre se tem processada da melhor maneira possível, originando fortes ressentimentos, o que é mais de temer é que eles escalem os seus ataques e que eventualmente tentem as tropas a tomar uma vez mais o poder, como já várias vezes o fizeram no passado.
O nome oficial da organização que todos conhecemos por Boko Haram é Jama'atu Ahlis Sunna Lidda'awati wal-Jihad, palavras árabes que se poderão traduzir por "Pessoas empenhadas na Propagação dos Ensinamentos do Profeta e da Jihad", que é uma espécie de cruzada contra os que não seguem Maomé.
Portanto, o que se está a passar na Nigéria, com a vitimização de tantos cristãos, em conflitos entre comunidades de religião diferente, poderá ser o prelúdio de episódios ainda mais sangrentos, que do Planalto de Jos desçam à fronteira com os Camarões e daí, no futuro, às imediações da própria Guiné Equatorial.
O facto de nestes últimos meses as televisões raramente nos falarem da Nigéria não esconde o facto de se prever que em 2050 ela deverá ter quase 450 milhões de habitantes e no fim do século mais de 700 milhões. Daqui a 40 anos a África sub-sariana já deverá ter quase três vezes a população da Europa; e no seu conjunto toda a África é o continente que mais cresce, em termos populacionais.
Ao reflectir sobre tudo isto, não deixa de ser preocupante ver como é que os fundamentalistas, tanto os da Al Qaeda no Maghreb Islâmico como os do dito grupo Boko Haram, estão empenhados em ganhar terreno desde Marrocos até ao Delta do Níger e aos Camarões. É, pois, um assunto a acompanhar com o máximo das atenções, durante os próximos anos. (vai sair na revista Além-Mar de Janeiro)

Tudo como sempre, na Guiné-Bissau

Bubo Na Tchuto, Chefe do Estado-Maior da Armada da Guiné-Bissau, Watna na Lai, ex-Chefe de Estado- Maior do Exército, Cletche Na Ghana, ex-Vice-Chefe do Estado-Maior do Exército, Tchipa na Bidun, recentemente nomeado para a DINFOSEMIL (serviços secretos militares), e Augusto Mário Có, vulgo «Capacete de Ferro», foram ontem detidos na Guiné-Bissau sob a acusação de tentativa de Golpe de Estado.
A Guiné-Bissau é o país da esperança adiada, conforme já há oito meses escrevi.
Quando em Fevereiro do ano 2000 Kumba Yalá Kobde Nhanca, líder do Partido da Renovação Social (PRS), tomou posse como Presidente da República da Guiné-Bissau, alguns julgaram precipitadamente que terminara a era do PAIGC, que em 24 de Setembro de 1973 proclamara unilateralmente a independência.
Kumba batera por larga margem o então Presidente interino Malam Bacai Sanhá, mas o seu mandato não chegou ao fim, encontrando-se ele hoje em dia exilado no Reino de Marrocos, enquanto Sanhá é o Presidente, eleito há perto de dois anos.
O PRS vencera as legislativas de Novembro de 1999, mas a sua passagem pelo poder foi efémera; e no último acto do género efectuado no pequeno país já o Partido da Renovação Social não conseguiu mais do que 25,3 por cento dos votos, face aos 49,8 do velho Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), criado por Amílcar e Luís Cabral.
Aquilo que há 11 anos se julgava um marco na vida dos guineenses, a entrada em funções de um Presidente e de um Governo não saídos do PAIGC, foi apenas uma fase transitória; e hoje em dia o primeiro-ministro é mais uma vez o actual líder do partido dos Cabrais, Carlos Gomes Júnior.
Luís Cabral, primeiro Presidente, filho de um cabo-verdiano e de uma portuguesa, foi derrubado em 1980 por um guineense de etnia papel, João Bernardo Vieira, que por duas vezes viria a ser violentamente afastado do poder, respectivamente em 1999 e em 2009. Da última foi mesmo barbaramente assassinado.
Depois das esperanças de 1999 e de 2000 de que alguma coisa estaria a mudar na Guiné-Bissau, veio a triste realidade de que nada mudou substancialmente, devido à inexistência de condições objectivas para uma melhor governação.
A realização de eleições presidenciais e legislativas tem sido ali uma simples panaceia, conforme muito bem afirmou o sociólogo guineense Carlos Lopes, pertencente aos quadros superiores das Nações Unidas.
Ainda não se realizaram reformas profundas, não se desmantelou o enorme aparelho de segurança e não se fez justiça, de modo que não houve democratização. Nem em 1999, nem em 2000 nem em 2009.
O país, de 36.125 quilómetros quadrados, continou subdesenvolvido e, em última instância, à mercê dos militares saídos da estrutura de guerrilha que alcançou a independência mas não conseguiu adaptar-se aos novos tempos e garantir um futuro pacífico.
Os duros militares guineenses conseguiram derrotar as Forças Armadas Portuguesas, forçaram o saneamento dos cabo-verdianos que chegaram a ocupar cargos ministeriais, derrotaram os senegaleses que em 1998/1999 intervieram na guerra civil, ao lado de João Bernardo Vieira, e continuaram renitentes a quaisquer tentativas de modernização e de submissão ao poder civil.
Entrementes, alguns desses militares, hoje em dia pessoas com bem mais de 50 anos, deixaram-se envolver em questões de tráfico, fosse ele de drogas ou de armas.
Por tudo isto aqui exposto, com um Presidente da República e um primeiro-ministro não inteiramente senhores de si, com um Procurador-Geral pouco efectivo, com oficiais das Forças Armadas eivados de vícios, estávamos absolutamente preparados para que da Guiné-Bissau nos chegassem a qualquer altura más notícias.
Os acontecimentos das últimas 48 horas surgiram no contexto da fragilidade das estruturas locais e de toda a instabilidade que se vive na região ocidental da África. Hoje como há dois anos.

O genocídio do povo arménio

Le Point.fr - Publié le 26/12/2011 à 10:11 - Modifié le 26/12/2011 à 12:03
Un texte reconnaissant le génocide arménien de 1915 avait été rejeté en 2007. Mais, depuis, rien ne va plus entre Israël et la Turquie.

Une commission parlementaire israélienne examinait, lundi matin, un texte reconnaissant le génocide arménien, une mesure qui devrait aggraver les tensions déjà fortes avec la Turquie. Le texte propose de faire du 24 avril, date du début des exécutions en masse d'Arméniens en 1915, une journée de commémoration du "massacre du peuple arménien". Le Parlement avait rejeté une proposition similaire en 2007, quand Israël et la Turquie entretenaient des liens étroits. Mais les relations se sont tendues depuis que la marine israélienne a tué neuf Turcs en mai 2010, lors de l'arraisonnement d'une flottille qui tentait de briser le blocus de Gaza.
En octobre, la Turquie a expulsé l'ambassadeur israélien à Ankara et rompu ses contrats militaires et de défense avec Israël. "Cela fait des années que nous travaillons" sur ce projet de journée commémorative, a déclaré Georgette Avakian, membre du Comité national arménien à Jérusalem, à la radio publique. "Nous espérons que le temps est venu." "Pendant des années, le gouvernement israélien a refusé de reconnaître le génocide pour des raisons cyniques, stratégiques et économiques, liées à ses relations avec la Turquie", a regretté Zahava Gal-On, une députée du parti de gauche Meretz qui soutient la proposition de loi.
1,5 million de victimes, selon l'Arménie
Mais le président de la Knesset, Reuven Rivlin, a estimé, à l'ouverture de la réunion, que la question n'était pas politique. "La question n'a pas été soulevée à cause de ce qui s'est passé entre Israël et la Turquie. Nous ne voulons pas exploiter une situation politique pour régler des comptes", a-t-il assuré.
Le massacre de centaines de milliers d'Arméniens en 1915 - 1,5 million, selon les Arméniens - a été reconnu en 1985 comme un génocide par l'ONU, mais la Turquie rejette fermement cette qualification. Elle évoque des morts dans les combats et les déportations, mais nie toute volonté d'extermination. La semaine dernière, Ankara a vivement réagi à l'adoption par l'Assemblée nationale française, qui a déjà reconnu le génocide arménien, d'une proposition de loi pénalisant la contestation d'un génocide, annonçant un gel de sa coopération militaire avec la France, rappelant son ambassadeur à Paris et accusant à son tour la France de génocide en Algérie.

22.12.11

Um sonho de há quatro anos e meio

O próximo dia 8 de Julho de 2007 é uma data histórica para Portugal, com a abertura da ponte entre o Carregado e Benavente, de modo a desbravar um pouco mais os campos de Samora Correia e de Salvaterra de Magos, numa zona que alguns consideram acintosamente de desértica e pouco têm feito para a povoar.
Com a ida de uma estrada da Arruda para Benavente, sobre o rio Tejo, são novas oportunidades para as terras que rodeiam o campo de tiro de Alcochete e que se estendem até ao Biscaínho e à Azervadinha, de modo a descongestionar o forte aglomerado populacional de Carregado/Castanheira do Ribatejo/Vila Franca de Xira/Quinta das Torres/Alhandra/Alverca, que já não aguenta mais gente. Está a rebentar pelas costuras.
A área urbana de Lisboa tem definitivamente de se alargar às vastas zonas planas onde se situam Santo Estêvão, Rio Frio, as Faias e o Poceirão; 15/25 quilómetros a leste do território em que actualmente se concentra. A abertura de uma ponte para o Barreiro, em 2013, e quiçá de outra entre a Vasco da Gama e a Carmona, a meio caminho entre Moscavide e Vila Franca, deverá originar daqui a 10 anos horizontes absolutamente novos para que qualquer cidadão de Loures ou da Amadora chegue mais depressa a Vendas Novas e a Montemor-o-Novo, desenvolvendo-se assim um grande tecido urbanizado desde os lados de Mafra até à Marateca e a Águas de Moura. Fazer crescer o povoamento por uma superfície maior, em vez de estar a fazer prédios de 12 andares.
A leste dos estuários do Tejo e do Sado é que Portugal se poderá agora desenvolver, em 2016, 2020, 2025. Vamos a isso! Jorge Heitor 23 de Junho de 2007

21.12.11

Os iraquianos encontram-se divididos

The Iraqi Prime Minister Nouri al-Maliki has urged Kurdish authorities in northern Iraq to hand over Iraq's Sunni Vice-President, Tariq al-Hashemi.

An arrest warrant was issued for Mr Hashemi on Monday over terror charges.

Tariq al-Hashemi is Iraq's most senior Sunni Arab politician. He says the allegations are "fabricated".

Mr Hashemi is currently in the region of northern Iraq controlled by Kurdish authorities. The warrant was issued a day after US troops pulled out.

The US Vice-President Joe Biden has urged Iraqi leaders to work together to avert renewed sectarian strife.

At a news conference broadcast live on Iraqi television, Mr Maliki, a Shia, said he would dismiss ministers belonging to the main Sunni political grouping, Iraqiyya, if they did not lift their boycott of parliament and cabinet.

Barely had the last American soldier stepped across the border into Kuwait than the fragile Iraqi political structure the US military left behind began to fall dangerously apart, as long-standing tensions between Shia and Sunni political leaders came to a head.

Iraq's most senior Sunni Arab politician, Tariq al-Hashemi, is effectively a fugitive. While he hides out under Kurdish protection in the north, the entire al-Iraqiyya political bloc to which he belongs has pulled out of both parliament and the cabinet.

That paralyses Sunni participation in the hard-won power-sharing deal that underpins a year-old national unity government which has rarely pulled together. Frantic efforts are now under way to try to hold that structure together.

The alternative, at its direst, could be the country's de facto partition, as part of a wider regional Balkanisation along sectarian lines.

Rift endangers unity government

Iraqiyya - which was already boycotting parliament in protest at Mr Maliki's alleged authoritarian manner - has suspended its ministers' participation in cabinet in response to the arrest warrant for Mr Hashemi.

The prime minister offered an invitation to all political factions to hold talks to try to resolve the crisis.

But if that did not work out he said that in the future Iraq could have a majority government which any person or bloc would be welcome to join, to "take the country forward in a positive direction".

Asked about Mr Hashemi's call for the Arab League to oversee any process against him, Mr Maliki said this was a criminal issue in Iraq. He saw no reason why the Arab League or the United Nations should intervene in an Iraqi criminal case, he said.

"We do not accept any interference in Iraqi justice," he said. "We gave Saddam a fair trial, and we will give Hashemi a fair trial too."

Mr Hashemi denies the claims that he paid his bodyguards to kill during Iraq's bloody insurgency.

On Monday evening Iraqi television showed purported confessions from his bodyguards, but the vice-president says that they were false and "politicised".

Mr Hashemi said he was ready to defend himself against accusations of terrorism
He told reporters on Tuesday: "I swear to God that I never committed a sin when it comes to Iraqi blood."

He said he would be willing to face trial in Kurdistan.

Mr Maliki's news conference came after he had spoken on the phone to Mr Biden.

The US vice-president "stressed the urgent need for the prime minister and the leaders of the other major blocs to meet and work through their differences together," the White House said.
BBC

19.12.11

A islamização da África Ocidental

The government's confused strategy has made little headway against the Boko Haram militia's shootings and bombings across northern Nigeria. The security services have turned the capital, Abuja, into an armed camp replete with spy cameras at major road junctions. On 13 December, President Goodluck Jonathan announced that the government would spend a staggering 921 billion naira (US$5.5 bn.) of the N4,749 bn. budget for 2012 on the armed forces and security services. This is a Boko Haram campaign bonanza for the generals and private security companies but the huge diversion of resources will not achieve its aims without a clear strategy to address the grievances that the militants exploit.
Throwing money and soldiers at Boko Haram may in the short term deter it from more spectacular attacks on landmark buildings in the capital but will do little to hold back operations from its base in north-eastern Nigeria. Well targeted attacks by the Islamist militants exacerbate the growing political and economic divide between the oil-rich south and the barren north. The national impact of this seems to have eluded policy-makers, who have failed to launch any political response to the militia's campaign, let alone provide education and other social services to ameliorate the often dire conditions in Boko Haram's home base.

16.12.11

Maioria dos marfinenses ignorou as legislativas

ABIDJAN, Dec 16 (Reuters) - Ivorian President Alassane Ouattara's ruling coalition won four fifths of seats in parliament, provisional election results showed on Friday, boosting his hand in governing the war-scarred West African state.

His RDR party took 127 of the National Assembly's 255 seats while his allied PDCI party took 77 seats, according to results from the Dec. 11 poll announced by election commission chief Youssouf Bakayoko.

Bakayoko said turnout was 36 percent, slightly higher than in Ivory Coast's last parliamentary poll in 2000, despite a boycott by the main opposition FPI party allied to former leader Laurent Gbagbo, now facing war crimes charges at The Hague.

15.12.11

Pescas nas águas de Marrocos e Sara Ocidental

Morocco has ordered foreign fishing boats operating in its waters under an EU deal to leave immediately.

The moves comes after the European Parliament voted not to extend a deal under which the EU paid Morocco for access to its fish stocks.

MEPs said the deal was illegal as it did not benefit the people living in the disputed Western Sahara, off which most of the fishing took place. BBC

14.12.11

Raúl Braga Pires escreve sobre Marrocos

Para além da retumbante vitória dos islamistas do PJD, com 107 deputados eleitos, mais 61 que na legislatura anterior, há outros factos que me parecem importantes realçar e analisar, agora que Abdelillah Benkirane estará prestes a apresentar o seu Executivo.

Em 2007, estavam registados nas listas eleitorais 15,5 milhões de potenciais votantes. Em 2011, estão registados 13,6 milhões, existindo cerca de 21 milhões de marroquinos em idade de votar, pelo que o número de registados deveria tendencialmente subir e não descer. A baixa deste valor absoluto, deve-se à tentativa das autoridades em amenizarem a crónica forte taxa de abstenção, a qual chegou a 63% em 2007, segundo os valores oficiais.

Nestas legislativas, o valor apresentado para a abstenção foi de 55%. Melhor, não se fala em abstenção, mas sim em taxa de participação, de 45%, ou seja, 6,1 milhões de marroquinos. Desta taxa de participação, foram contabilizados 1,6 milhões de votos nulos e em branco. Ou seja, 26% de votantes que se deram ao trabalho de se deslocarem às urnas para depositarem o seu voto de protesto, de rejeição de todos os partidos políticos, de todo um sistema, os quais representam 11,7% dos 13,6 milhões registados. Em rigor, apenas 33,3% de marroquinos decidiram o futuro dos próximos 5 anos, calculos sempre baseados nos número oficiais apresentados.

Quanto aos vencedores, há sobretudo a assinalar que representam/acompanham/marcam a mudança do paradigma que se vive pós-"Primavera Árabe", já que são o surgir de uma nova élite, a qual não foi formada no estrangeiro, não trabalhou em grandes multinacionais, nem tem graus de parentesco entre si. Neste sentido, foram legitimados pelo voto popular, o que também faz desta eleição talvez a mais limpa e transparente da História do Marrocos, dada também a presença de cerca de 4 mil observadores, de 12 instâncias marroquinas e 4 estrangeiras.

Nesse sentido, falhei completamente a previsão do texto anterior sobre as mesmas, quando alvitrei que se arranjaria uma maningância constitucional para evitar um Abdelillah Benkirane Chefe do Governo. Chegou mesmo a especular-se que o Artigo 47º da Constituição nada especifica sobre se deve ser o líder do partido mais votado o nomeado para chefiar o governo, abrindo assim a porta a outras possibilidades no seio do partido vencedor.

Mohamed VI foi escrupuloso e nomeou Benkirane Chefe do Governo, conferindo também desta forma a transparência já mencionada anteriormente. Uma semana depois reforçou o gabinete real com o anúncio da nomeação de mais 2 Conselheiros Reais, desta feita Yasser Zenagui, o ainda Ministro do Turismo e do Artesanato e, Fouad Ali El Himma, "O" amigo do Rei e seu confidente dos tempos do Colégio Real, ex-Ministro Delegado do Interior entre 2002/07, fundador do Mouvement Pour Tous Les Démocrates em 2007, o qual em Agosto de 2008 se torna no Parti Authenticité et Modernité(um dos grandes derrotados destas legislativas), tendo como objectivo principal contrabalançar a influência e popularidade dos islamistas do PJD.

Com esta passagem de El Himma de oficioso a oficial, terá um gosto especial seguir a gestão que o Palácio fará do Governo, bem como a gestão que o soberano fará das rivalidades entre os seus conselheiros, sobretudo entre El Himma e Mohammed Mounir Majidi, o gestor da fortuna real e também colega de carteira no Colégio Real.

Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/legislativas-marroquinas-analise=f694170

11.12.11

Mugabe quer manter-se no poder em 2012

Zimbabwean President Robert Mugabe has said it would be an act of cowardice for him to retire ahead of elections expected to be held next year.
Closing his party's annual conference, Mr Mugabe, 87, condemned the current power-sharing government as a "monster" which should be buried.
Resolutions were passed endorsing Mr Mugabe as candidate, in spite of reports he is suffering ill-health.
Correspondents say despite party divisions, public dissent is rare.
President Mugabe's Zanu-PF party formed a coalition in 2009 with the MDC party of Morgan Tsvangirai, now prime minister, following disputed elections.
The agreement has brought greater stability to Zimbabwe but correspondents say many people believe elections could bring further turmoil.
Elections do not have to happen until 2013, but analysts say Mr Mugabe's supporters want them earlier for fear that the elderly president may not cope with the pressure of campaigning.

'Such a mess'

"Luckily, God has given me this longer life than others to be with you and I will not let you down," Mr Mugabe told thousands of delegates in Bulawayo, the country's second city.
"I can't leave you in such a mess. It would be completely wrong and a loss of confidence in myself. When the party is moving ahead, then I'll say it is in your own hands."
Mr Mugabe has governed Zimbabwe since independence from Britain in 1980 and has at times resorted to ruthless measures to stay in power.
He suffered his first electoral defeat in a 2000 referendum and his supporters immediately unleashed a campaign of violence against the MDC.
Mr Mugabe's critics say a combination of violence and fraud secured subsequent election victories.
He says Western countries, led by the UK, are trying to oust him because of his policy of seizing white-owned land.
BBC

9.12.11

Retrospectativa da África em 2011

Este período histórico em que nasceu o Sudão do Sul e em que três países árabes do Norte de África perderam os seus dirigentes de longa data merece bem uma reflexão, numa revista que tão apropriadamente se debruça sobre os problemas do além-mar, sobre as situações existentes fora da Europa. A fome imensa que atormenta as populações de uma série de Estados e as convulsões que se registam noutros dominaram a actualidade africana ao longo do ano que ora se aproxima do fim; mais um ano em que o continente ainda não conseguiu ultrapassar aquele atraso de desenvolvimento que desde há muitas décadas nele verificamos. Quer seja pelas sequelas da colonização a que há um século se encontrava sujeito, por parte dos europeus, quer seja por outros e múltiplos factores que não é fácil analisar no simples espaço de duas ou três páginas de uma qualquer publicação.
Digamos apenas que se colocou talvez demasiada esperança no alastrar a outras terras da dita Primavera Árabe que principiou nas ruas tunisinas e egípcias; para depois falarmos quase que esquematicamente de uma dúzia de casos ocorridos ao longo de 2011, a mero título exemplificativo; uma vez que por cada situação abordada há sempre cinco ou seis que ficam por mencionar. Temos bem a consciência das nossas limitações, quando desejamos passar em revista um determinado período da História.
Gostaríamos de acreditar que a África é o continente do século XXI e que os factores de optimismo existem; mas por vezes é difícil. Dizem-nos que os conflitos armados estão a diminuir e que os africanos tomam o destino nas suas próprias mãos, mas isso é muitas vezes mais a linguagem de políticos bem intencionados do que a percepção geral da maioria das pessoas.
Na prática, há velhas cobiças que renascem; e outras que aparecem, do Leste e do Ocidente, em relação à África, mãe da Humanidade, que nela nasceu há cerca de 200.000 anos. África que em 2050 contará com mais de um quinto da população mundial em idade de trabalhar.
Da Tunísia ao Egipto
Depois de afastado no mês de Janeiro o Presidente tunisino Ben Ali, realizaram-se em Outubro as eleições para uma Assembleia Constituinte, ganhas pelo partido islamista Ennadha. Um dos prémios Sakharov deste ano foi atribuído pelo Parlamento Europeu, a título póstumo, a Mohamed Bouazizi, que se imolou pelo fogo no dia 17 de Dezembro de 2010 em Sidi Bouzid, e morreu duas semanas mais tarde, num gesto que desencadeou o vasto movimento popular que levou à queda do ditador que sucedera a Habib Burguiba e à sua fuga para a Arábia Saudita.
Entretanto, a forma trágica como morreu em Outubro o coronel Muammar Khadafi e como o seu cadáver foi exibido manchou o que poderia ter sido a alvorada de um novo tempo, com muitas promessas de democratização. Depois, a notícia de que a Líbiase iria reger pela sharia, "a lei islâmica ideal", também não ajudou muito quem estava à espera de um Estado que seguisse padrões culturais mais próximos dos europeus, mais de acordo com os valores dominantes na França e no Reino Unido. Mas só o ano de 2012 é que irá dizer como é que se irá desenvolver o novo sistema político, que tão desejado foi pelos países da NATO, sem os quais nunca teria havido mudança de regime.
O que se teme é que, com dirigentes mais dóceis, empresas das Américas, da Europa e da Ásia possam procurar tirar maior proveito das enormes reservas petrolíferas líbias, que são as maiores de todo o continente africano. Isto num país sem coesão étnica, pois que se a norte tem árabes e berberes arabizados, com bolsas exclusivamente berberes, a sul tem tébus nómadas e semi-nómadas e a ocidente tuaregues. Um país que é constituído por três territórios bem distintos: a Tripolitânia, a Cirenaica e Fezzan.
Quanto ao Egipto, o Conselho Supremo das Forças Armadas, que substituiu o Presidente Hosni Mubarak, não tem conseguido impedir alguns actos de violência que são cometidos por agentes policiais, de modo que a esperança numa existência mais decente continua adiada.
Na África Ocidental
Depois de alguns meses de grande impasse, o Presidente eleito da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, conseguiu tomar posse, enquanto o seu antecessor, Laurent Gbagbo era, detido, ficando a aguardar julgamento. Ouattara é um economista liberal, antigo quadro superior do FMI, e conta com toda a simpatia do Presidente francês Nicolas Sarkozy, enquanto Gbagbo é um historiador socialista bem visto em círculos evangélicos norte-americanos. Estes últimos temem sobretudo o facto de Ouattara ser proveniente de uma família muçulmana, radicada desde há muito na zona de fronteira da Costa do Marfim com o Burkina Faso.
Por outro lado, em Julho, alguns militares da República da Guiné atacaram em Conacri a residência particular do Presidente Alpha Condé, que fora eleito em Novembro de 2010, depois de décadas à frente da oposição. Foram detidas 38 pessoas, na sequência desse atentado contra um político escolhido de forma livre e credível, mas que é diabético e tem dificuldade em andar sem assistência.
Condé está a tentar retirar o país de um ciclo brutal de violência e de submissão aos interesses do narcotráfico internacional, bem patentes tanto no seu território como no da vizinha Guiné-Bissau, que continua a ser um dos países menos desenvolvidos do mundo, sempre no temor de novos derramamentos de sangue.
África Austral
Herdeiro do velho reino do Zimbabwe e do Monomotapa, que do século XI ao XVII ia do curso médio do Zambeze até à sua foz, entre as actuais cidades de Quelimane e Beira, o país que existe desde 1980 no território que chegou a chamar-se Rodésia continua a ser dirigido desde essa altura por Robert Gabriel Mugabe, que em vez de Presidente da República mais se comporta como um antigo tirano. O cobre, o carvão, o ouro, o manganés e as pedras preciosas permitem perpetuar-se no poder, apesar de ter perdido as eleições de 2008, de cujos resultados fez tábua rasa, manietando o verdadeiro vencedor, Morgan Tsvangirai, com um lugar de primeiro-ministro com um espaço de manobra cada vez mais reduzido.
A clarificação do que se está a passar em solo zimbabweano deveria ser um dos nossos desejos para o próximo Natal, para que não se arrastem por mais tempo sistemas como os do Zimbabwe, da Guiné Equatorial ou da Eritreia, que são tudo menos democráticos.
Enquanto isso, imediatamente a norte, e quase sem o mundo dar por isso, Michael Chilufya Sata, da Frente Patriótica, passou a ser no dia 23 de Setembro Presidente da República da Zâmbia, tendo como vice-presidente Guy Scott, na sequência de eleições que lhe deram um mandato de cinco anos, com 43,3 por cento dos votos expressos, face aos 36,2 por cento do seu antecessor, Rupiah Banda. Este último só esteve três anos no poder, mas aceitou muito bem a derrota nas urnas, ao contrário do que acontecera na Costa do Marfim com Laurent Gbagbo. Sata destacara-se por ter denunciado a forma agressiva como a China está a entrar na África e a falta de respeito pelos trabalhadores em muitas das empresas chinesas instaladas no continente africano.
Do Sudão ao Quénia
A forma suave como o Sudão do Sul, em grande parte cristão, se conseguiu separar de Cartum foi um bom augúrio para os que acreditam na inevitabilidade de novas fronteiras africanas, mais adequadas a um continente cuja superfície é bem superior ao conjunto dos Estados Unidos, da Europa Ocidental, da China e da Índia. No fim de Junho, o Conselho de Segurança das Nações Unidas criou a Força de Segurança Interina para a região fronteiriça desmilitarizada de Abyei, de modo a garantir a segurança nessas terras ricas em petróleo que existem entre os dois Sudões. A UNISFA foi dotada de cerca de 4.000 militares e de 50 polícias.
O Presidente Omar al-Bashir, procurado em vão pelo Tribunal Penal Internacional, foi em visita oficial à China, assinar um acordo de cooperação económica e tecnológica, bem como contrair dois empréstimos e estabelecer uma parceria para a exploração petrolífera (sempre ela, a pairar sobre o quotidiano de povos que sofrem fome e epidemias).
No mês de Julho, a FAO, a União Africana, o Programa Alimentar Mundial e outras instituições procuraram soluções para a crise alimentar desencadeada pela seca, os conflitos armados e outros males que afectam a Etiópia, o Quénia, a Somália, os territórios sudaneses e o Uganda. Dezenas de milhares de pessoas têm vindo a morrer e pelo menos 12 milhões encontram-se em situação de grande vulnerabilidade.
Já em finais de Outubro, do outro lado da África, a parte ocidental, soube-se que um milhão de pessoas estão em risco de fome no Níger e 700.000 na Mauritânia, países situados na área do Sahel, imediatamente a sul do Sara; e que entre si têm o Mali, que também não estará isento das sequências trágicas de uma seca prolongada.
A insegurança alimentar, se bem que disseminada, encontra-se particularmente em níveis de extrema urgência nas terras do Corno de África, tendo a fome sido declarada no Sul da Somália, um país que há mais de 20 anos não sabe o que é uma administração centralizada, antes constituindo uma autêntica manta de retalhos, formada por uma série de poderes. Um quarto dos 7,5 milhões de somalis são pessoas deslocadas, 50 por cento do gado chega a morrer e os preços dos cereais básicos atingem níveis recorde, o que leva a situações de catástrofe, nas proximidades de Mogadíscio, uma capital que só o é no papel.
O acesso das instituições humanitárias é muito limitado em cerca de metade do território nacional, devido à existência de milícias fundamentalistas. Como a Al Haraka al Shababaab, contra a qual o Exército do Quénia se aventurou na segunda quinzena de Outubro, na primeira campanha que desde há 44 anos efectua além-fronteiras. É sabido que a partir de Nairobi, capital queniana, os Estados Unidos e o Reino Unido dirigem grandes operações regionais de combate ao terrorismo.
Washington decidiu neste último trimestre do ano enviar para o interior da África alguns conselheiros militares, de modo a ajudarem o Uganda e outros países nas suas imediações a neutralizarem de uma vez por todas esse horroroso flagelo que é o dito Exército de Resistência do Senhor (LRS), de Joseph Konny, figura sinistra procurada pelo Tribunal Penal Internacional. Ao longo de um quarto de século, Kony tem vindo a aterrorizar populações não só do seu próprio território como, também, do Sudão do Sul e do Nordeste da República Democrática do Congo.
Revista Além-Mar n.609 Dezembro 2011

6.12.11

Nós, os árabes

Alfama, Alcântara e Alvalade anseiam pelo triunfo da Primavera Árabe que há 10 meses começou a florir em Tunes e no Cairo.
Álamo, Alandroal, Albardo, Albarraque, Albergaria-a-Velha, Albergaria das Cabras, Albergaria dos Fusos, Albergaria dos Doze, Alberge, Albernoa, Albreiro, Albufeira, Albrunheira, Alburitel, Alcabideche, Alcácel do Sal, Alcáçovas, Alcafeche e Alcafozes também têm o coração a bater um uníssono com o dos marroquinos, tunisinos, líbios e egípcios.
Alcaide, Alcainão Grande, Alcaíns, Alcalva, Alcanede, Alcanena, Alcanhões, Alcantarilha, Alcaravela, Alcaria de Javazes, Alcaria do Coelho, Alcaria Queimada, Alcaria Ruiva, Alcarias Pedro Guerreiro, Alcarvas e Alcobaça sonham com um futuro risonho para o Maghreb.
Alcobertas, Alcochete, Alcoentre, Alcofra, Alcoitão, Alcongosta, Alcordal, Alcornicosa, Alcoroches, Alcôrrego, Alcorriol, Alcorvel, Alcountim, Aldão, Aldeios dos Marmelos, Aldreu, Aldriz, Alfaião e Alfaiates sonham com Damascos a florir, frutos novos de uma Síria mais justa.
Alfândega da Fé, Alfazina, Alfarela de Jales, Alfarelos, Alfarim, Alfarrobeira, Alfebre do Mato, Alfebrinho, Alfeicão, Alfeizerão, Alfena e Alferrarede torcem pela democratização do Iémen.
Alforgermel, Alfontes, Alfouvês, Alfrívida, Alfundão, Algale, Algares, Algariz, Algarvia (e todo o Algarve), Algeriz, Algeruz, Algoceira, Algodor, Algodres, Algosinho, Algoso e Algoz encontram-se na expectativa sobre para que lado irá pender o Bahrein.
Alguber, Algueirão, Alhandra, Alverca, Aljaraz, Aljezur, Aljubarrota, Aljustrel, Almaceda, Almacinha e Almada interrogam-se por que é que a Argélia ainda está tão calma, ali entalada entre os fervores islamizantes que se notam em Marrocos e na Tunísia.
Almada de Ouro, Almadena, Almagreira, Almalaguês, Almancil, Almargem, Almarjão, Almeida e outros recantos de Portugal reflectem sobre o que é que irá acontecer na Jordânia e em Omã. Jorge Heitor

5.12.11

Aviso de tempestade para África

Economic gloom in Europe and North America will slow African growth next year and may spark more challenges to incumbent regimes


For many African countries, the West’s economic travails will translate into spiralling food and fuel prices, higher unemployment and less state spending on education and health. The rumbling Eurozone crisis and the United States’ debt-burdened economy will not necessarily divert Africa from its more positive growth path but may slow its rate of progress, given its direct and indirect (via China) dependence on trade with the industrialised West (see Chart).

The West’s slowdown has pulled back growth in China and India – and with it demand for African exports. That could prove a dangerous combination for some authoritarian regimes, already shakier as North Africa’s revolutions resonate across the continent. With over 30 parliamentary and presidential elections due in 2012, savvier opposition parties will hope to capitalise on tougher social and economic conditions. Inflation and interest rates are spiralling across East Africa: inflation hit 33% in Uganda and 17% in Kenya in September.
AFRICA CONFIDENTIAL

2.12.11

Raúl M. Braga Pires, em Rabat

(www.expresso.pt)

Segunda feira, 28 de novembro de 2011

A ida às urnas é tão importante quanto o acampamento em Tahrir

Foi há precisamente 1 ano, a 28 de Novembro que decorreram as últimas eleições legislativas no Egito, às quais concorreram o Partido Nacional Democrata (PND) de Hosni Mubarak e de seu filho Gamal, o qual era o Secretário-Geral do Comité Político.

Os acontecimentos da última semana e meia no Egito, comprovam que o que se tem passado neste país desde janeiro, em nada corresponde a uma "Primavera Árabe", mas sim à tentativa de um golpe de Estado militar. Nem tão pouco se tratou de um levantamento popular expontâneo, já que o Movimento 6 de Abril tem vindo a receber formação do Movimento Estudantil Otpor (Resistência) da Sérvia, há cerca de 3 anos. O Otpor foi em parte um grande responsável pela queda de Slobodan Milosevic, tendo sido também financiado por George Soros.

Quanto aos militares, há muito que se digladiavam com Mubarak e seu filho, a propósito da eleição do próximo Presidente, prevista para setembro de 2011. Em finais de agosto, aparecem cartazes no Cairo e em Alexandria com a cara de Gamal Mubarak e as seguintes mensagens: "Gamal Mubarak, o sonho dos pobres", "Gamal Mubarak, o país espera por ti" e "Gamal Mubarak, a esperança de uma geração". Em resposta, no início de setembro, aparecem outros cartazes, mas desta vez apresentavam a cara de Omar Suleiman com óculos escuros e a fazer continência. O chefe dos Serviços Secretos egípcios apresentava-se assim ao país sob o mote "Omar Suleiman, a verdadeira alternativa como Presidente da República", isto numa quinta-feira, enquanto acompanhava o Presidente Mubarak e o seu filho, em Washington, para o reatar das negociações entre israelitas e palestinianos.

Há um ano, o PND "limpou" completamente o Parlamento egípcio, elegendo 420 deputados em 508 possiveis, garantindo-lhe uma maioria de 3/4 necessária para a eleição do seu candidato presidencial, já que este é eleito pela Assembleia do Povo Egípcio e não directamente pela população. Para ser ainda mais claro quanto à dimensão desta monumental chapelada eleitoral, a qual não teve direito a observadores internacionais, nem se quer a controlo pelos magistrados locais, a Irmandade Muçulmana perdeu os seus 88 deputados eleitos como independentes em 2005, desistindo na 2.ª volta em sinal de protesto pois só conseguira eleger um único deputado na 1.ª volta e, o segundo partido mais votado, o New Wafd (Nova Delegação), conseguiu eleger 6 deputados!

Para os militares, o futuro Presidente nunca poderia ser um ultra-liberal como Gamal Mubarak, o qual certamente teria um largo projecto de privatizações, o que colidiria com os esquemas económicos dos generais, para além de se tratar de um civil que nem se quer terminara o serviço militar obrigatório. Por outro lado, Omar Suleiman, o qual chegou a ser Vice-Presidente de Mubarak durante 13 dias, já este ano, geria o dossiê "Processo de Paz israelo-palestiniano" há mais de 10 anos, sendo o seu nome também consensual entre israelitas, o que oferecia garantias de estabilidade para o país e toda a região.

Todos os dados apontavam para um 2011 agitado no Egito, tendo a auto-imolação de Mohamed Bouazizi em Sidi Bouzid e a queda de Ben Ali na Tunísia, servido de catalizador dos acontecimentos, não apanhando, no entanto, ninguém desprevenido.

A importância das eleições de hoje, 28-11, parecem-me serem até mais cruciais para o futuro do mundo árabo-muçulmano, do que para o próprio Egito, embora também o sejam para estes, naturalmente. O exemplo de resistência a esta tentativa de golpe militar, simbolizado pelos acampamentos em Tahrir, são cada vez mais inspiradores para todos. O Movimento 6 de Abril tem seguido o roteiro traçado durante os contactos que teve com o Otpor, sendo que a base deste é a resistência pacífica, a não violência e a desobediência civil, ensinamentos do académico americano Gene Sharp. Por outro lado, é fundamental que as eleições sejam transparentes como o foram na Tunísia, já que o alcance deste exemplo no mundo árabo-muçulmano será tremendo, inspirando a rua a exercer mais pressão sobre o Poder e obrigando este a perceber que governar é negociar e que a democracia é conflito.

Os egipcios já o perceberam, tendo vivido na semana passada um déjà vu enquanto escutavam o discurso do Marechal Tantawi à nação. Foi consensual o paralelo estabelecido com o discurso de Mubarak em janeiro, o que lhes assegura que estão no bom caminho e que enquanto mantiverem as tendas montadas, o Conselho Militar vai ter que continuar a ceder. Mas também é preciso votar.