Bubo Na Tchuto, Chefe do Estado-Maior da Armada da Guiné-Bissau, Watna na Lai, ex-Chefe de Estado- Maior do Exército, Cletche Na Ghana, ex-Vice-Chefe do Estado-Maior do Exército, Tchipa na Bidun, recentemente nomeado para a DINFOSEMIL (serviços secretos militares), e Augusto Mário Có, vulgo «Capacete de Ferro», foram ontem detidos na Guiné-Bissau sob a acusação de tentativa de Golpe de Estado.
A Guiné-Bissau é o país da esperança adiada, conforme já há oito meses escrevi.
Quando em Fevereiro do ano 2000 Kumba Yalá Kobde Nhanca, líder do Partido da Renovação Social (PRS), tomou posse como Presidente da República da Guiné-Bissau, alguns julgaram precipitadamente que terminara a era do PAIGC, que em 24 de Setembro de 1973 proclamara unilateralmente a independência.
Kumba batera por larga margem o então Presidente interino Malam Bacai Sanhá, mas o seu mandato não chegou ao fim, encontrando-se ele hoje em dia exilado no Reino de Marrocos, enquanto Sanhá é o Presidente, eleito há perto de dois anos.
O PRS vencera as legislativas de Novembro de 1999, mas a sua passagem pelo poder foi efémera; e no último acto do género efectuado no pequeno país já o Partido da Renovação Social não conseguiu mais do que 25,3 por cento dos votos, face aos 49,8 do velho Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), criado por Amílcar e Luís Cabral.
Aquilo que há 11 anos se julgava um marco na vida dos guineenses, a entrada em funções de um Presidente e de um Governo não saídos do PAIGC, foi apenas uma fase transitória; e hoje em dia o primeiro-ministro é mais uma vez o actual líder do partido dos Cabrais, Carlos Gomes Júnior.
Luís Cabral, primeiro Presidente, filho de um cabo-verdiano e de uma portuguesa, foi derrubado em 1980 por um guineense de etnia papel, João Bernardo Vieira, que por duas vezes viria a ser violentamente afastado do poder, respectivamente em 1999 e em 2009. Da última foi mesmo barbaramente assassinado.
Depois das esperanças de 1999 e de 2000 de que alguma coisa estaria a mudar na Guiné-Bissau, veio a triste realidade de que nada mudou substancialmente, devido à inexistência de condições objectivas para uma melhor governação.
A realização de eleições presidenciais e legislativas tem sido ali uma simples panaceia, conforme muito bem afirmou o sociólogo guineense Carlos Lopes, pertencente aos quadros superiores das Nações Unidas.
Ainda não se realizaram reformas profundas, não se desmantelou o enorme aparelho de segurança e não se fez justiça, de modo que não houve democratização. Nem em 1999, nem em 2000 nem em 2009.
O país, de 36.125 quilómetros quadrados, continou subdesenvolvido e, em última instância, à mercê dos militares saídos da estrutura de guerrilha que alcançou a independência mas não conseguiu adaptar-se aos novos tempos e garantir um futuro pacífico.
Os duros militares guineenses conseguiram derrotar as Forças Armadas Portuguesas, forçaram o saneamento dos cabo-verdianos que chegaram a ocupar cargos ministeriais, derrotaram os senegaleses que em 1998/1999 intervieram na guerra civil, ao lado de João Bernardo Vieira, e continuaram renitentes a quaisquer tentativas de modernização e de submissão ao poder civil.
Entrementes, alguns desses militares, hoje em dia pessoas com bem mais de 50 anos, deixaram-se envolver em questões de tráfico, fosse ele de drogas ou de armas.
Por tudo isto aqui exposto, com um Presidente da República e um primeiro-ministro não inteiramente senhores de si, com um Procurador-Geral pouco efectivo, com oficiais das Forças Armadas eivados de vícios, estávamos absolutamente preparados para que da Guiné-Bissau nos chegassem a qualquer altura más notícias.
Os acontecimentos das últimas 48 horas surgiram no contexto da fragilidade das estruturas locais e de toda a instabilidade que se vive na região ocidental da África. Hoje como há dois anos.
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