31.1.12

Discurso da recandidatura de Ramos-Horta

Díli, 31 de Janeiro de 2012

Querido povo, povo de Timor que eu amo

Hoje quero comunicar a todos os timorenses, nesta terra sagrada ou no estrangeiro, a minha opinião e a minha decisão, como cidadão, relativamente às eleições presidenciais no dia 17 de Março de 2012.

Em Maio de 2007 quando o povo colocou a pesada cruz nos meus ombros como Presidente da República, pensei em servir por um período de cinco anos, só um mandato. Talvez vocês ainda se lembrem das minhas palavras durante a campanha de 2007:

Se o povo me eleger como Presidente da República, o povo coloca nos meus ombros uma pesada cruz que vou levar diariamente por um período de cinco anos. Se o povo não me eleger como Presidente, é bom também porque não consigo ocupar a cadeira do Presidente, mas terei a minha liberdade.

Aceitei de facto a grande cruz que o povo colocou nos meus ombros no dia 20 de Maio de 2007. Levei a cruz diariamente, de estação para estação, caí numa estação no dia 11 de Fevereiro de 2008, levantei-me e continuei de distrito em distrito, nesta nossa amada pátria, de espírito renovado.

Aceitei as tarefas difíceis como Presidente, em 2007, para unir todo o povo, curar os ferimentos graves nas nossas Forças Armadas e Forças Policiais. Aceitei tarefas difíceis como Presidente para sarar feridas nas famílias timorenses, nas comunidades, nas aldeias e nas povoações. Aceitei as tarefas difíceis de Presidente com o objectivo de restaurar a fé e a esperança do povo, confiança no Estado, confiança no futuro, para que o povo volte a sonhar, em paz e amor, com uma vida melhor.

Não sou uma pessoa que sabe tudo, nem estou isento de erros. Não prometo também o Céu, não prometo um jardim só com cheiro a flores, com rosas típicas da montanha, como em Hatubuilico. As melhores rosas também têm espinhos que nos podem ferir se não tivermos cuidado.

Durante os meus cinco anos como Presidente, conseguimos realizar alguma obra juntos, mas muito ainda está por fazer. Estou a falar da pobreza, das pessoas mais carenciadas. Estou a falar sobre as mães e os pais que vivem nas aldeias desta nação, que dormem sob as nuvens, no chão molhado e frio, em camas bolorentas de bambu e em cima de esteiras velhas.

Mas não tenho conhecimento e força para vos tirar da pobreza, de debaixo das nuvens, num tempo tão curto. Prometo-vos a paz, prometo às mães que as suas aldeias, as suas estradas por onde passam diariamente para levar madeira ou água, transportar vegetais, filhos e filhas, serão pacíficas e seguras. Ainda não cumpri exactamente estes sonhos.

Mas algumas coisas boas que o nosso povo tem, foram criadas colectivamente por nós. Ajudámo-nos mutuamente, cultivámos as sementes da paz que estão a crescer, a produzir flores e frutos – ainda verdes, mas a amadurecer.

Nos últimos meses, centenas de timorenses, velhos e jovens, ricos e pobres, líderes de outros países, grandes ou pequenos, fortes ou fracos, todos falaram comigo muitas vezes, pediram-me para continuar a servir mais cinco anos como Presidente da República.

Ouvi as vossas opiniões, ouvi as opiniões deles, ouvi os nossos amigos nos outros países. Há alguns meses, pensei em afastar-me do caminho para que um dos nossos outros irmãos se sentasse no Palácio Presidencial, a fim de dirigir o nosso querido país Timor-Leste

Quando ouvi que o nosso irmão Taur Matan Ruak, veterano, herói nacional, ia participar nas eleições presidenciais em 2012, pensei que era melhor afastar-me da recandidatura para dar lugar ao irmão Taur.

Outro herói, o irmão Francisco Guterres Lu'Olo, Presidente do Partido FRETILIN, recentemente anunciou também a sua intenção de se candidatar a Presidente da República.

Nos últimos dez anos, o irmão TMR dirigiu as FALINTIL –FDTL. Durante cinco anos, o irmão Lu’Olo liderou o nosso Parlamento Nacional. O irmão Lu’Olo Guterres vem de uma família pobre, simples, humilde. Ele fez muitos sacrifícios, voltou à escola, entrou na UNTL e tirou o curso de Direito com notas altas. Ele é uma inspiração para todos nós.

Estes dois nossos irmãos vêm de famílias pobres mas têm dignidade e auto-confiança. Estes dois heróis, que abdicaram dos seus anos de juventude, viveram no mato, em grutas, estiveram de pé no topo da montanha, carregando a bandeira da liberdade, enfrentaram grandes perigos, diariamente, com coragem; eles tiveram fome e, muitas vezes, e comiam só sagu, mandioca, kumbili, inhame, muitas vezes não comiam nada, adoeceram e derramaram sangue.

O irmão Fernando Araújo Lasama, Presidente do Partido PD, Presidente do nosso Parlamento Nacional, quer também o cargo de Presidente da República. Podemos dizer que o irmão Lasama ainda é jovem, mas ele também tem uma longa experiência política, na qualidade de Presidente do PD por um período de dez anos e na capacidade de Presidente do Parlamento Nacional por um período de cinco anos.

Por isso, quando centenas de timorenses me pediram para procurar o segundo mandato como Presidente da República, pensei muito, avaliei tudo, ponderei aquilo que diziam, avaliei a minha vontade, a vontade do povo e o interesse nacional.

Para concorrer com o irmão Taur ou o irmão Lu’Olo, o meu pensamento e o meu sentimento hesitaram. Qual é a melhor decisão? Ser candidato ou não ser candidato ao mandato de 2012 – 2017?

Hoje entrei na Igreja de Santo António de Motael para rezar e reflectir. As palavras que ouvi na minha consciência foram:

Põe-te à disposição do povo - e o povo, com base na inteligência proveniente de centenas de anos, escolherá o líder da sua confiança e o líder de que gosta.

Apresento a minha candidatura e cabe ao povo decidir. Mas não vou fazer campanha. O povo conhece-me - durante o tempo da luta, eu era a voz e a sombra do povo no mundo; fui Ministro dos Negócios Estrangeiro por vários anos, na crise de 2006 – 2007 tornei-me Primeiro-Ministro e finalmente, fui eleito Presidente, até hoje.

Não vou fazer campanha em oposição aos outros candidatos porque não sou melhor, não sou mais inteligente do que os meus irmãos candidatos.

Na época da campanha, vou transmitir apenas uma mensagem com o meu pensamento, o meu programa para 2012 – 2017. No tempo da campanha, vou continuar a trabalhar no Palácio ou visitar diversas áreas como fiz muitas vezes nos últimos cinco anos, mas não vou fazer campanha.

Posso dizer-vos hoje: se o povo escolher outro candidato, vou apoiar o candidato eleito, apoiar o nosso novo Presidente, dar ao Presidente eleito o apoio que o novo Presidente quiser e que solicitar. Ele não estará sozinho.

Por isso, meu querido povo, escolham um candidato em quem confiem, de quem gostem realmente. Não tenham medo porque nós vamos apoiá-lo, vamos estar com ele. Quando recebermos o novo Presidente de coração aberto, estaremos com ele, a nossa democracia vai tornar-se melhor e vai ter uma raiz forte como um gondoeiro sagrado, desenvolveremos a paz nos lares, nas escolas, nas aldeias, nos sucos e em toda a nossa nação.

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