10.1.12

A Liga Árabe e a Síria

Raúl M. Braga Pires, em Rabat (www.expresso.pt)

Segunda feira, 9 de janeiro de 2012
Apesar do fracasso, a Liga Árabe vai manter a sua Missão de Observação, até pelo menos o final deste mês.

Duas semanas, três atentados e 400 mortos depois, foi ontem (8 de Janeiro) decidido no Cairo que a Missão de Observação da Liga Árabe na Síria continuará, pelo menos até ao final deste mês.

Inicialmente foi apontado o número de 500 observadores para esta missão, mas até à data só chegaram ao território cerca de 150. O objectivo da presença destes tinha como garantia do regime de Bashar Al-Assad, a retirada dos militares, dos tanques, dos snipers, em suma, das armas, das ruas sírias, bem como a libertação da totalidade dos presos políticos e a entrada da media internacional, de forma incondicional. Apenas uma pequena parte dos objectivos foi cumprida. Até ao momento foram libertados 552 detidos, de um total de cerca de 25 mil, segundo fontes locais. O regime afirma que se encontram mais de 136 jornalistas estrangeiros, a cobrirem os eventos.

No relatório apresentado na reunião de ontem no Cairo, foi referido que os observadores têm sido ameaçados tanto por membros do regime, como por manifestantes. O amadorismo da acção destes observadores tem também sido patente nas imagens difundidas, já que são vistos a tirarem fotografias com telemóveis e pequenas câmeras de bolso, não dispondo, portanto, de material profissional. Por vezes, solicitam folhas de papel e canetas aos sírios que os acompanham, para poderem tirar notas à medida que avançam no terreno.

Segundo o regime, estes observadores têm liberdade de movimentos, entando sempre dependentes dos carros, dos motoristas e dos seguranças que o primeiro coloca à disposição. Quando solicitam a visita a locais mais quentes, como Baba Amr em Homs, é lhes dito que não lhes poderão garantir a segurança e integridade física e não são escoltados até ao local.

O Qatar decidiu colocar mais dinheiro e meios à disposição desta missão de observação, aumentando também o número de observadores para 300, não conseguindo, no entanto, convencer os seus parceiros a aceitarem a presença de observadores das Nações Unidas neste reforço de medidas.

Mas afinal, porque razão é que a Liga Árabe tomou esta iniciativa e decidiu prolongar a sua presença no território, se esta missão se provou um fracasso e não deverá desenvolver muito mais do que isto?

Em primeiro lugar, porque todos os seus estados membros têm problemas sectários e a Síria é o melhor local para fazer espoletar um conflito transnacional com essas caracteristicas.

Em segundo lugar, porque a Liga Árabe tinha obrigatóriamente que fazer alguma coisa, sobretudo após a intervenção NATO na Líbia, do Conselho de Cooperação do Golfo no Iémen e da Arábia Saudita no Bahrein. Havendo também que acrescentar o ambiente de Guerra Fria existente na região entre Irão versus Arábia Saudita e seus aliados, o qual vai abrindo cada vez mais o flanco a uma Turquia coordenadora e agregadora de uma oposição política síria.

Ou seja, mesmo com sucessivos falhanços, a Liga Árabe vai tendo o protagonismo de ofuscar, sobretudo, iranianos e turcos e de promover uma competitividade no seu seio, com uma clara vantagem de momento para o Qatar, potência financeira e mediática, aliado de peso para quem tiver armas e demografia.

Por fim, o Exército da Síria Livre, já com cerca de 20 mil homens, começa a ter adesões de cada vez maior peso. Desta feita foi o Brigadeiro-General Mustapha Ahmed Al-Sheikh, a mais alta patente a desertar daquilo que descreveu como o não patriótico Exército sírio, juntando-se a outros, como o Coronel da Força Aérea Afeef Mahmoud Suleiman, o qual já deu uma nova missão aos 50 homens que o acompanharam. Proteger os manifestantes em Hama.

Entretanto, as Nações Unidas, que já calculam em mais de 5 mil mortos o número de baixas desde o início da sublevação, reunirá o Conselho de Segurança amanhã, dia 10, para debater em exclusivo a situação na Síria enquanto que uma esquadra naval russa liderada por um porta-aviões, aportou no porto sírio de Tartus, onde possui uma base naval dos tempos da Guerra Fria e, onde tem programado ficar nos próximos 6 dias.

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