2.4.13

Bissau: um ano depois do golpe de 12 de Abril

Violação dos direitos humanos e aumento substancial do narcotráfico por Jorge Heitor/LusoMonitor, em Apr 2, 2013 Completando-se no próximo dia 12 de Abril um ano sobre o golpe de estado que derrubou o regime existente na Guiné-Bissau, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a União Africana, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a União Europeia e as Nações Unidas deram conta das violações dos direitos humanos que têm estado a ser cometidas e de um aumento substancial do tráfico de drogas. Uma missão conjunta daquelas entidades esteve no pequeno país e considerou incontestável que os problemas da impunidade, das violações dos direitos humanos e da constante intromissão das Forças Armadas na vida política existem desde há muito tempo. Por outro lado, notou que as tropas oriundas da guerrilha que lutou pela independência não conseguiram transformar-se em Forças Armadas ao serviço do Estado, antes procurando ter sempre um papel importante na gestão do mesmo. Além disso, notou que os políticos costumam instrumentalizar os militares, encorajando-os por vezes a derrubarem os seus adversários, numa terrível promiscuidade entre dois sectores da sociedade que deveriam ter papéis bem distintos um do outro. O orçamento total apresentado agora pelo Governo de Transição para garantir a organização de eleições credíveis é de 32 milhões de euros; mas esse dinheiro só aparecerá se a comunidade internacional estiver disposta a ajudar um país que não se tem mostrado minimamente digno disso. Hoje, como há sete ou oito anos, continua a falar-se da necessidade de reformas nos sectores da defesa, da segurança, da justiça e da administração pública, combatendo-se a impunidade e o crime organizado. Tudo isto é muito bonito de se dizer, mas dificílimo de concretizar, num território onde não existe verdadeira consciência nacional nem sequer um quarto da população que se consiga expressar fluentemente na língua oficial, o português. As eleições, sejam elas legislativas ou presidenciais, acabam sempre por se transformar numa panaceia para problemas que têm décadas de existência, pois que radicam no facto de, em 1950, 1960 ou 1970, as populações fulas, mandingas, balantas, manjacas e outras não terem sido devidamente preparadas para se unificarem numa só Nação guineense. A doutrina de Amílcar Cabral pode ter sido muito interessante, do ponto de vista teórico, mas não é o simples pensamento de um só homem que em 15 ou 20 anos faz um país, com pés para andar. Tal como uma só andorinha não faz a Primavera. Enquanto 25 ou 30 por cento dos guineenses, pelo menos, não estiverem devidamente alfabetizados, escrevendo e lendo como deve de ser, completando um sólido ensino secundário, será muito difícil de acreditar que termine a violência a que até hoje temos assistido. A Guiné-Bissau continua a ser um projecto adiado, desde que em 1973 o PAIGC proclamou de forma unilateral e precoce a sua independência. *Jorge Heitor trabalhou durante 25 anos em agência noticiosa e depois 21 no jornal PÚBLICO, tendo passado alguns períodos da sua vida em Moçambique, na Guiné-Bissau e em Angola. Também fez reportagens em Cabo Verde, em São Tomé e Príncipe, na África do Sul, na Zâmbia, na Nigéria e em Marrocos. Actualmente é colaborador da revista comboniana Além-Mar e da revista moçambicana Prestígio. Este artigo foi-lhe pedido pelo site LusoMonitor.

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