“A atual luta EUA-Rússia é sobre a criação de uma Nova Ordem Internacional”, e a Ucrânia é o “campo de batalha principal”, onde os dois atores globais estão definindo novas regras e condições, escreve Dmitri Trenin em seu artigo “O Pesadelo da Europa virando realidade: America vs Rússia … De Novo“, publicado no National Interest (Interesse Nacional), um meio de comunicação norte-americano respeitável.
No entanto, não é a Ucrânia, mas a Europa como um todo (o prêmio principal) que se tornou o pivô central da competição geopolítica, sublinha o especialista. ”Os riscos não poderiam ser mais altos”, acrescentou.
Trenin prevê o agravamento das relações entre a Rússia e os países da UE-União Europeia, sendo deliberadamente instigados por Washington, numa perspectiva de curto prazo. Essa tendência, no entanto, pode mudar no longo prazo: “Moscou pode esperar que a punição (e provocação), liderada pelos EUA, contra a Rússia, já esta principalmente causando problemas no comércio da UE com o pais russo, pode levar a problemas na OTAN (aliança entre EUA e Europa) e divisões dentro da própria UE”, escreveu Dmitri Trenin.
Em contraste com o início da primeira Guerra Fria, quando a URSS foi contemplada como um oponente ardente do Ocidente, os europeus não mais consideram Moscou como um rival ideológico, nem uma ameaça (militar) potencial hoje. Estando envolvidos em profundas relações comerciais com a Rússia e dependentes de seu fornecimento de energia, para enfrentar o inverno, os países europeus estão dispostos a ver a Rússia como um parceiro, e não como um antagonista.
Assim, “Moscow incidirá sobre países como a Alemanha, Itália, França, Espanha e vários países menores – da Finlândia para a Áustria para a Grécia – com a qual a Rússia construiu relações comerciais extensas”, observa o especialista. Note-se que os estados europeus, citados por Trenin, já são alvo de críticas ferozes dos decisores políticos (n.t. controlados) neoconservadores norte americanos.
Por exemplo, os neocons exortam a Espanha a suspender a sua cooperação marítima com a Rússia; clamam com a França (n.t. e a puniram com uma pesada multa de US$ 9 bilhões ao banco BNP-Paribas por ter financiado a venda do navio para a Rússia, deixando os franceses furiosos) para cancelar seu contrato de fornecimento de navios de guerra da classe Mistral com Moscou; culpam a Alemanha e a Itália por sua falta de vontade de pôr em risco os atuais e fortes laços econômicos com a Rússia.
Dmitri Trenin aponta os dois principais vetores estratégicos da política externa da Rússia: o fortalecimento de alianças de Moscou com a Alemanha no Ocidente e da China no Oriente. Embora as relações russo-alemãs sejam contidas pela participação da Alemanha na OTAN, Moscou considera o pais germânico o “carro-chefe” da UE o seu aliado geopolítico de longa data na Europa (n.t. A Alemanha é a quarta economia do mundo e a maior da Europa). Para evitar essa “perigosa” aproximação russo-alemã Washington insta Berlim para apertar sua política de sanções contra Moscou (devido à “fabricada crise na Ucrânia”), e acompanha de perto a atividade da elite da política alemã.
Embora os especialistas ocidentais, incluindo o diretor do Carnegie Moscow Center, acreditem que a Rússia abriga um medo profundo de seu poderoso vizinho do Leste – a China – Moscou já demonstrou a sua disponibilidade para ampliar a cooperação econômica e política bilateral com Pequim. Note-se que a aproximação entre a China e a Rússia começou no início de 1990.
Assim, a mudança para o Oriente não deve ser qualificada como “gesto de desespero” de Moscou causado pelas sanções ocidentais: o movimento hostil dos EUA tem apenas catalisado e acelerado este processo. Os loucos em Washington estão profundamente preocupados com o fortalecimento da aliança sino-russa. Especialistas ocidentais alertam que a aproximação da Rússia e da China em conjunto com o fortalecimento do bloco conhecido como BRICS acabará por alterar o equilíbrio global de poder.
“Dada a natureza fundamental do conflito entre a Rússia com os Estados Unidos, Moscou está buscando consolidar suas relações com países não-ocidentais. O grupo BRICS, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, é uma plataforma natural para esse movimento“, escreveu Dmitri Trenin, acrescentando: “Politicamente, a Rússia já se coloca como um país aberto para todos os países descontentes com o domínio global dos EUA”. (n.t. Secretamente a Alemanha iniciou conversações com Moscou para entrar no bloco dos países BRICS: Link aqui )
“É muito cedo para especular como vai acabar esta disputa pelo controle do rearranjo de uma Nova Ordem Mundial. As apostas são muito altas”, observa o especialista. Qualquer erro acidental ou concessão séria feita por Moscou ou Washington pode levar à perda de poder e prestígio mundial por um dos lados concorrentes.
Enquanto isso, a Rússia está se preparando para a sua reindustrialização, a fim de reduzir sua dependência do Ocidente e aumenta o controle do governo sobre seus assuntos internos. “Até certo ponto, a pressão ocidental auxilia os esforços do Kremlin”, Dmitri Trenin enfatiza.
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