15.11.13
Moçambique: Contra os excessos de optimismo
Lisboa, 13 Nov (AIM)- O antigo ministro moçambicano do Comércio e
actualmente administrador do Banco Terra, Manuel Aranda da Silva, apelou
esta quarta-feira à serenidade sublinhando que a cidade de Maputo é mais
segura do que 90 por cento das capitais de África e da América Latina, não
obstante os recentes casos de sequestros.
Manuel Aranda da Silva foi o convidado da mesa-redonda intitulada
'Moçambique: Paz Ameaçada?', promovida pelo Instituto Marquês de Valle Flôr
(IMVF), a Fundação AIP, o EuroDefense-Portugal e a AFCEA-Portugal, que
decorreu na capital portuguesa, Lisboa.
'Os problemas de insegurança assustam as pessoas e criaram uma certa
instabilidade, mas Maputo é uma cidade mais segura do que 90% das cidades
capitais de África e da América Latina, disse Manuel Aranda da Silva, em
declarações aos jornalistas após intervir na mesa redonda.
Para o antigo ministro do Comércio, no México, por exemplo, houve 100 mil
raptos no ano passado (2012) e na Venezuela foram sequestrados 20
portugueses nos últimos meses, sublinhando que a criminalidade surge
associada ao desenvolvimento de Moçambique: 'Quando há dinheiro, há mais
ganância'.
'O que é importante é que haja um sistema de justiça e um sistema policial
que enfrente e reduza' o problema, sublinhou.
Os sequestros, principalmente na cidade de Maputo e arredores, fizeram
manchetes nos jornais e ocuparam espaços de televisões em Portugal e um
pouco noutras capitais europeias, bem como noutros cantos do mundo. Alguns
jornais avançaram com a tese de que Moçambique 'é inseguro' e alguns
cidadãos portugueses abandonaram o país.
Questionado sobre o desenvolvimento do país perante a instabilidade
provocada pelos sequestros e os ataques de homens armados da Renamo,
principal partido da oposição, contra civis e forças de defesa e segurança,
Aranda da Silva mostrou-se convicto de que Moçambique continuará a crescer.
'Estabilizando politicamente depois das eleições autárquicas (a 20 de
Novembro corrente) e depois das presidenciais do próximo ano, tenho razões
para crer que o desenvolvimento de Moçambique vai continuar, os
investimentos não vão parar porque houve uma certa instabilidade', afirmou.
O administrador do Banco Terra, na capital moçambicana, afirmou ainda que a
tensão entre o partido no poder, a Frelimo, e o principal partido da
oposição, a Renamo, 'tem de ser resolvida'.
'A Renamo é um dos partidos mais importantes em Moçambique. Tem de haver
diálogo e penso que o governo está a procurar essas soluções neste momento',
disse.
O diálogo com a Renamo 'tem de ser conduzido de forma a evitar que haja
instabilidade nas estradas moçambicanas porque isso cria problemas à
população em geral e impede o desenvolvimento', acrescentou Aranda da Silva.
Os ataques intensificaram-se depois que, a 21 de outubro, uma operação do
exército moçambicano desalojou Afonso Dhlakama e seus homens armados da base
de Satungira, na Gorongosa, centro de Moçambique, onde o líder da Renamo
residia há cerca de um ano.
Manuel Aranda da Silva, membro do Conselho de Administração do Banco Terra,
em Maputo, voltou a apelar para a necessidade dos moçambicanos conterem a
'euforia e entusiasmo' sobre os recursos naturais, atribuindo parte da
responsabilidade pelo excesso de expectativas aos jornalistas que,
permanentemente, falam em biliões de dólares e não explicam que o gás
natural descoberto na bacia do Rovuma, no norte do país, ainda não começou a
ser explorado.
Ainda são projectos cuja concretização poderá ocorrer nos próximos seis a
dez anos, mas já há pessoas que reivindicam os ganhos, numa altura em que o
gás natural em exploração é apenas o de Pande e Temane, na província de
Inhambane, no sula de Moçambique, pela petroquímica sul-africana SASOL.
Esta quarta-feira, em Maputo, o Centro de Integridade Pública (CIP),
organização não governamental que monitoriza a transparência no Estado
moçambicano, anunciou que o preço que a multinacional sul-africana SASOL
paga pelo gás que extrai em Moçambique é 'abusivo' e vai levar 'uma
eternidade' para que o Estado consiga arrecadar o imposto sobre lucros.
O CIP considerou 'delapidador' do país o contrato que o governo assinou com
a SASOL para a exploração de gás das reservas de Pande e Temane, durante o
lançamento do 'Relatório sobre as Receitas do Projecto de Exploração de Gás
de Pande-Temane pela SASOL'.
Durante a apresentação do estudo, o director do CIP, Adriano Nuvunga,
afirmou que o preço que a firma sul-africana paga ao Estado pelo gás que
explora em Moçambique é 'bastante prejudicial para o país e levará uma
eternidade para o Estado começar a arrecadar os impostos provenientes do
lucro do projecto'.
'Uma das falhas do contrato é o preço abusivo que a SASOL paga ao Estado
moçambicano. Em 2009, por exemplo, a SASOL comprou o gás natural em
Moçambique por 1,44 dólares (1,07 euros) por giga-joule e vende-o aos
clientes na África do Sul por mais de sete dólares (5,2 euros) por
giga-joule', enfatizou o diretor do CIP.
Segundo a organização, o governo arrecada apenas nove milhões de dólares
anuais (6,7 milhões de euros) em receitas de produção do gás contra várias
projecções que variavam entre 40 milhões de dólares (29,8 milhões de euros)
e 47 milhões de dólares (35 milhões de euros).
(AIM)
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