30.11.13

O Africom nas Lajes da Terceira?

Governo português recuperou a ideia antiga de instalar na Terceira uma parte da estrutura do Africom, um dos seis quartéis-generais militares regionais do Departamento de Defesa dos EUA, apurou o PÚBLICO. Será uma das soluções alternativas para a redução militar norte-americana para a Base das Lajes. As mensagens começaram a surgir, embora de forma encriptada. O Governo português desdobrou-se, esta semana, em declarações para sinalizar o seu empenho na solução do problema criado com a redução da presença norte-americana na Base das Lajes. Sem assumir, no entanto, qualquer saída concreta para as negociações em curso. Mas, ao que o PÚBLICO apurou, existem já propostas em cima da mesa. Nomeadamente instalar ali parte da estrutura do Africom. Ontem, a secretária de Estado da Defesa, Berta Cabral, afi rmou em Ponta Delgada que estava já em marcha “um conjunto de iniciativas de mitigação dos impactos negativos da redução militar que o Governo dos EUA pretende promover na Base das Lajes” para a eventualidade de fracassarem os esforços diplomáticos junto do Senado norte-americano no sentido de congelar a redução de efectivos. Na passada quinta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros fez sair um comunicado no qual manifestava o “empenho do Governo português em trabalhar numa linha de actuação abrangente que permita mitigar as consequências políticas, económicas e laborais da anunciada decisão norte-americana”. Ambos os ministérios foram questionados para precisar o que estava em causa. Tanto no MNE como na Defesa se optou pelo silêncio. Com o argumento de que assumir a existência de um plano B faria perder força e argumentos ao ainda em curso processo de congelamento da redução de efectivos junto do Senado norteamericano. Mas, ao que o PÚBLICO apurou, o Governo português encara como alternativa à redução, a instalação na Base das Lajes de “alguma estrutura” do Africom. O anterior presidente do Governo açoriano, Carlos César, chegou a defendê-lo publicamente. O PÚBLICO sabe que a alternativa Africom tem sido debatida com responsáveis norte-americanos, tanto pelo Governo central como pelo Governo regional. Aos mais variados níveis, seja nos contactos com a Administração norte-americana e Pentágono, seja nos encontros com representantes políticos no Congresso em Washington. Nesta fase do processo, no entanto, ninguém quer assumir a questão. No Palácio das Necessidades, por exemplo, a cautela justifica-se com a necessidade de gerir o “excesso de expectativas”. O foco está ainda no esforço diplomático para confirmar no Senado a emenda às leis de Orçamento e Política de Defesa para 2014, aprovada este Verão na Câmara dos Representantes. O problema é que não está ainda garantido que a emenda que congela a redução de efectivos venha a ser aprovada no Senado. Havendo quem reconheça, no interior do Governo, que o “resultado mais provável é aquele que não desejamos”. Um resultado previsível, se se tiver em conta o que está a suceder de há uns meses nas Lajes. Enquanto em Washington se faziam as démarches, a Força Aérea norte-americana avançou com os planos de redução. Foi reduzido o tempo de destacamento dos militares americanos, e estes foram impedidos de trazerem as respectivas famílias, como acontecia anteriormente. De acordo com os dados recolhidos pelas autoridades açorianas, cerca de 150 familiares de militares da Base das Lajes abandonaram a ilha da Terceira, deixando vazias mais de 60 moradias arrendadas. Com o argumento da presente situação volátil no continente, o proliferar de conflitos poderia abrir perspectivas no sentido de tornar a localização das Lajes como uma mais-valia para os EUA. O Africom está actualmente sedeado em Estugarda, na Alemanha. E tem estruturas a si subordinadas espalhadas pela Europa. O Exército está instalado em Vicenza, Itália. O comando naval está também naquele país, em Nápoles. O efectivo aéreo está em Ramstein, na Alemanha. Uma força de reacção rápida, composta por 550 fuzileiros, foi deslocada este ano para Móron, em Espanha. E o contingente de Forças Especiais está instalado em Estugarda. “O Governo está a trabalhar numa linha de actuação abrangente que permita mitigar as consequências políticas” nas Lajes, Portugal foi tentando negociar utilizações alternativas. De 2007 para cá, estiveram em cima da mesa propostas como treinos dos novos aviões militares norte-americanas F-22 e F-35, a instalação de um sistema de armamento de mísseis hipersónicos ou a colocação do Africom. Nuno Sá Lourenço/PÚBLICO

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