13.11.13

Um Moçambique abaixo das expectativas

Em 2025, 50 anos depois da viagem triunfal de Samora Moisés Machel do Rovuma ao Maputo, Moçambique apresentará um cenário cabrito, um cenário caranguejo, um cenário de cágado ou um cenário de abelha? ----- Jorge Heitor ----- Moçambique encontra-se hoje em dia, de algum modo, aquém das expectativas. Isto foi dito durante uma mesa redonda efectuada esta semana na Associação Industrial Portuguesa (AIP), em Lisboa, por iniciativa desta e Instituto Valle-Flor, entre outras entidades. Partindo de um documento aprovado em 2003 pelo consenso de todos os deputados moçambicanos, admitiu-se que em 2015, meio século depois de proclamada a independência, se poderá verificar um de quatro cenários, identificados com nomes bem sugestivos: 1 - Cenário Cabrito, caracterizado por uma má governação e por corrupção. 2 - Cenário Caranguejo, com perda dos valores democráticos. 3 - Cenário Cágado, com desenvolvimento tecnológico mas sem uma visão nacional a longo prazo, aumentando até as desigualdades sociais. 4 - Cenário Abelha, repleto de aspectos positivos. No decorrer da mesa redonda, notou-se que Moçambique apresenta uma economia potencialmente emergente, mas que ainda está aquém das expectativas que alguns poderiam ter. Explicou-se que só em 1983 é que o país recuperou o ponto máximo do desenvolvimento que tinha tido no período colonial e que em 2004 se andava por aí, não se tendo até então avançado muito mais do que era a situação existente à data da descolonização. Notou-se que a Mozal, a indústria do alumínio, tem contribuído com quase 50 por cento das exportações, empregando 3.000 pessoas, de entre as quais 600 técnicos estrangeiros. Falou-se da enorme importância do carvão e, agora, também, do gás natural, que até 2021 vai ter 10 plataformas e uma fábrica no Norte do país. Uma gestão notável A gestão macroeconómica moçambicana tem sido notável, com uma inflacção de apenas 2,7 por cento; mas como o diálogo nem sempre foi conduzido da melhor maneira possível havia expectativas enormes que começam a ser um tanto ou quanto defraudadas e que talvez só possam ser cumpridas daqui a 10 anos. Referiu-se nesta mesa redonda, com quatro dezenas de participantes, que nas eleições de 2009 a Frelimo chegou a cerca de 75 por cento dos votos expressos, em grande parte por desgaste da Renamo, que não se soube transformar devidamente de movimento de guerrilha em partido político. Falou-se do surgimento do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) como um partido urbano, da classe média, bem implantado na Beira e em Quelimane. Partido que poderá ser o segundo nas autárquicas da próxima semana, o que deixou a Renamo em pânico, pois que o seu eleitorado é bastante mais rural do que citadino. O MDM, que se está a organizar de forma rigorosa, concorre em 53 autarquias e poderá, ao conquistar duas ou três câmaras, posicionar-se bem para a sua participação nas presidenciais e legislativas do próximo ano; para as eleições de Novembro de 2014. Dlakhama desestabilizador Eivado de um sentimento de revolta, por ver os anos a passar e a sua figura a ficar desgastada, o líder da Renamo, Afonso Dlakhama, criou ultimamente um clima de desestabilização, tendo vindo a aumentar os incidentes; mas ninguém acredita na existência de condições para um eventual regresso à guerra civil que terminou com o Acordo Geral de Paz assinado em Roma no mês de Outubro de 1992. Enquanto isto, o que mais se discute na Frelimo é a necessidade de acelerar o processo de escolha do seu candidato presidencial, possivelmente uma pessoa da confiança de Armando Emílio Guebuza, provavelmente uma pessoa do Norte. Quanto aos raptos que se têm verificado nestes últimos quatro anos, foi dito no debate de Lisboa que eles começaram por visar paquistaneses e indianos, com o objectivo de se obter dinheiro. Mas que ultimamente também assumiram um cariz político, pois que há interesses económicos da África do Sul que não vêem com bons olhos a forma como Portugal, o Brasil e a Austrália se relacionam com Moçambique. Ou seja, os mesmos sul-africanos que noutra altura ajudaram a Renamo a vingar continuarão a olhar para as potencialidades moçambicanas como uma coutada sua. Outros aspectos em que se tocou ao de leve durante a mesa redonda realizada na AIP foram a existência de um Norte islamizado, onde surgem posições radicais; hipotéticas tensões separatistas, contrárias à unidade nacional; e até tendências expansionistas de há muito detectadas no Malawi e no Zimbabwe.

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