23.5.13

As brancas mansões colombianas das Bijagós

Há essencialmente 14 ilhas Bijagós, habitadas, mas todo o arquipélago compreende 88 ilhas e ilhéus, 20 a 30 milhas ao largo do resto da Guiné-Bissau. As agências de combate à cocaína já as fotografaram a partir do espaço, mas até há uns quatro anos ainda nenhuma delas lá chegara num pequeno barco. Uma figura do romance The Cobra, Calvin Dexter, descobriu que as Bijagós eram pantanosas, quentes, cheias de mangais e febris, mas que em quatro ou cinco delas, as mais distantes da costa, havia luxuosas mansões brancas, à beira da praia, cada uma delas com parabólicas, tecnologia de ponta e antewnas de rádio para apanhar um serviço fornecedor de telemóveis. Cada um desses palacetes brancos, dessas "villas" tinha um cais e uma lancha rápida. "Eram as residências dos colombianos no exílio", como nos descreve o britânico Frederick Forsyth, mestre de espionagem, intriga internacional e suspense. Para além disso, nas Bijagós também havia, também há, campos de pesca onde estrangeiros rapinam as reservas da Guiné-Bissau, conforme há semanas referiu o representante local do secretário-geral das Nações Unidas, o antigo Presidente timorense José Ramos-Horta, que chegou à notoriedade a que chegou graças aos excelentes relaionamentos que conseguiu manter nos Estados Unidos, ao longo dos anos que lá viveu. No romance "The Cobra", que há perto de quatro anos me ocupa a imaginação, Forsyth (ou o seu irmão gémeo Calvin Dexter) notou por lá, pelas Bijagós, canoas da República da Guiné, da Serra Leoa e do Senegal, com alimentos e combustível para 15 dias de faina. Cada uma das canoas trabalhava para navios-mãe, chineses e sul-coreanos, cujas câmaras frigoríficas poderiam levar o peixe para o Extremo Oriente. O agente secreto Dexter e dois pára-quedistas britânicos, negros, que o acompanhavam andaram por lá, com potentes binóculos, a testemunhar os movimentos tanto dos barcos da pesca clandestina como dos que serviam os propósito do tráfico de cocaína, de modo a que a Drug Enforcement Administration e o Her Majesty's Revenue & Customs passassem a saber muito mais do que na verdade é a Guiné-Bissau do que muito provavelmente a CPLP o sabe. Esta ficção, porventura bem perto da realidade, obra de um antigo piloto da RAF, que é ao mesmo tempo jornalista de investigação e romancista, ajuda-nos a compreender muita coisa sobre a forma como os Estados Unidos se foram preparando ao longo dos últimos quatro anos para um dia deitar a mão a Bubo Na Tchuto, António Indjai e Ibrahima Papá Camará, figuras cimeiras da Armada, do Exército e da Força Aérea da Guiné-Bissau; verdadeiro triunvirato que tem vindo a dominar o país, ao serviço de um cartel colombiano da cocaína. JH

Um comentário:

mário matos e lemos disse...

Excelente crónica sobre um livro que não conheço mas que me parece vir pôr em relevo uma situação que tem sido ignorada pela grande imprensa, talvez não por acaso. Mário Matos e Lemos