22.5.13

Os negócios de Cabo Verde

Quando dois navios ao serviço de um agente secreto norte-americano entraram numa baía de Cabo Verde e lançaram ferro, deixaram praticamente de existir, pois que novos nomes lhes foram dados e novos documentos enviados para a Lloyd's International Shipping List. Passaram a ser navios cerealíferos ao serviço de uma empresa de Singapura. Segundo a história ficcionada que é contada por Frederick Forsyth em "The Cobra", houve uma cerimónia na embaixada de Cabo Verde na Cidade da Praia, que desde há alguns anos se encontra a cargo de Marianne Myles, encontrando-se presentes os ministros cabo-verdeanos dos Recursos Naturais e da Defesa. Um almirante norte-americano assinou o acordo em nome do Pentágono, para que tudo se passasse como uma forma de ajuda; o que na verdade era uma forma muito especial de os Estados Unidos ficarem a utilizar o aeroporto da ilha do Fogo, cuja pista fora aumentada graças a um donativo da União Europeia. E a partir daí patrulhariam o Oceano, a fim de detectarem quaisquer vestígios de navegação ilegal. Foi assim, com passagens por Cabo Verde, Lisboa e Londres, que os Estados Unidos foram lançando a rede aos traficantes que desejavam capturar na África Ocidental, dentro do pressuposto de que por lá passa muita cocaína oriunda da Colômbia, do Peru e da Bolívia. Desde há sete ou oito anos, mais de metade da cocaína colombiana destinada à Europa passa orpaíses como o Senegal, a Gâmbia, a Guiné-Bissau, a República da Guiné, a Serra Leoa, a Libéria e o Gana. Já escrevi sobre isso nas páginas 76 e 77 do Anuário Janus de 2011-2012 ("Narcotráfico e instabilidade na região ocidental da África") e o bestseller "The Cobra", estranhamente não editado em Portugal, lança muita luz sobre os meandros deste problema, ao qual se encontram associadas figuras cimeiras das Forças Armadas da Guiné-Bissau. Quando há algumas semanas o almirante José Américo Bubo Na Tchuto foi interceptado pelos norte-americanos, ao largo da Guiné-Bissau, foi precisamente para Cabo Verde que o levaram em primeiro lugar, antes de o conduzirem a Nova York, para ser julgado. Outros militares agora na mira de Washington são António Indjai e Ibrahima Papá Camará. JH

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