22.7.11

Considerações sobre política turca

Raúl M. Braga Pires, em Rabat (www.expresso.pt), escreveu:

15:40 Quarta feira, 20 de julho de 2011

Foi há mais de um mês, a 12 de Junho, mas parece-me pertinente ainda fazer uma análise sobre aquilo que de imediato classifiquei como "O Discurso do Califado", proferido pelo Primeiro-Ministro (PM) turco, Recep Tayyip Erdogan, na noite da celebração da mais recente vitória eleitoral.
O Sr. e a Srª Erdogan assumiram pela primeira vez o papel de futura Primeira Família e apareceram juntos na varanda da sede do Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), da qual o PM, em resumo, disse o seguinte: "Acreditem, Sarajevo ganhou tanto quanto Istambul, Beirute ganhou tanto quanto Izmir, Damasco ganhou tanto quanto Ancara, Ramallah, Nablous, Jenin, a Cisjordânia, Gaza e Jerusálem ganharam tanto quanto Diyarbakir. (...) O Médio Oriente, o Caucaso, os Balcãs e a Europa ganharam tanto quanto a Turquia".
Erdogan assume claramente a vontade da Turquia em se assumir como a voz dos muçulmanos junto da Europa e arredores.

A AMBIÇÃO TURCA E A "POLÍTICA DE PROBLEMAS ZERO"

Na semana anterior às eleições, Marwan Bishara, jornalista de referência da Aljazeera, entrevista o Ministro dos Negócios Estranjeiros (MNE) turco, Ahmet Davutoglu, para o seu programa semanal "Empire", em Istambul. Bishara inicia o programa dizendo "Minister welcome to the Empire", ao que Davutoglu responde "Welcome to the capital of the Empire!" Nesta entrevista o influente MNE turco assume de forma tranquila a ambição do seu país em se tornar numa potencia global e não regional, ressalvando que não se querem assumir como um novo Império Otomano e que, no entanto, é impossivel alterar a Geografia e a História. Por outro lado, o ex-professor de História agora ministro, elenca uma série de sucessos diplomáticos baseados na "política de problemas zero", a qual vem sendo aplicada desde 2003 e que permitiu uma mudança de paradigma na política externa turca, sobretudo no relacionamento directo com os vizinhos, Grécia, Russia, Georgia, Bulgária, Síria, Irão, Iraque, Líbano e Jordânia, a qual se tem revelado um sucesso progressivo.
Davutoglu assume também um investimento pessoal e de Estado nos processos de reforma em curso no Egipto e Tunísia, dizendo que um sucesso em ambos os casos será crucial para um caminhar mais tranquilo e seguro nos mundos árabe e islâmico. Mais recentemente, a 03 de Julho, esteve em Benghazi, onde reconheceu o Conselho de Transição Nacional como poder legitimo na Líbia, um volte-face deste membro da NATO, que inicialmente não concordou com a intervenção militar. Também prometeu um apoio adicional de 200 milhões de dólares. Inumeros também têm sido os esforços da Turquia no apoio aos refugiados sírios, bem como na organização de conferências nas quais têm participado a oposição síria, na procura de soluções para o mais que provavel momento pós-família Assad.

UM "TELEFONE VERDE"

Voltando ao Califado, acho um anacronismo histórico só o facto de se pensar que o mesmo poderá vir a re-existir, no entanto, parece-me óbvio, nos dias que correm, a necessidade de um "telefone verde" credivel para o qual se possa ligar aquando de questões pertinentes e que envolvam populações/comunidades/países islâmicos.
A questão é simples, onde é que preferem que esse telefone fique instalado? Na Turquia, país capitalista, secular, cosmopolita, cuja Geografia e a História permitem a construção continua de pontes, ou numa gruta qualquer no Afeganistão, no Iémen ou no norte do Mali?

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