5.1.11

O pandemónio na Costa do Marfim

Um antigo conselheiro da embaixada da França na Costa do Marfim, Dominique Pin, agora quadro da empresa Areva, promotora de reactores nucleares, escreveu no diário Libération, sem dar provas, que em Setembro de 2002 o Presidente Laurent Gbagbo pretendeu "liquidar" o político liberal Alassane Ouattara.
Com a convicção de quem esteve colocado no terreno entre 2000 e 2002, Pin entrou assim na vasta legião dos que pretendem trucidar politicamente o socialista Gbagbo, colocando em seu lugar alguém que pareça servir melhor os interesses de Nicolas Sarkozy e de empresas como a Areva ou a Progosa, dedicada à chamada logística internacional.
No meio de todo o pandemónio em que a Costa do Marfim transitou de 2010 para 2011, o antigo diplomata veio contar que os colaboradores de Gbagbo pretenderam assassinar Ouattara por o considerarem o financiador das Forças Novas, de Guillaume Soro, que haviam lançado uma ofensiva contra Abidjan.
Num episódio rocambolesco, Ouattara e a mulher, uma francesa da Argélia, altamente relacionada internacionalmente, teriam escalado os muros da sua residência e ido refugiar-se em casa do embaixador da Alemanha. Tal como em 1984 tínhamos visto o destituído primeiro-ministro Vítor Saúde Maria fazer em Bissau, saltando pelos quintais para se refugiar na residência do embaixador de Portugal, na Rua de Lisboa.
A acreditar na versão de Dominique Pin, o círculo que rodeia Gbagbo teria tanta propensão para eliminar adversários quanto a demonstrada anteriormente por João Bernardo "Nino" Vieira.
Pin, hoje em dia figura importante da Areva e da Progosa, para questões de logística e de fornecimento de combustíveis, entre outras, alega que o economista liberal Alassane Ouattara esteve então dois meses e meio refugiado em sua casa.
Velhos laços, portanto, entre Ouattara e a França degaullista; entre Ouattara e grandes interesses empresariais da Europa e dos Estados Unidos.
Enquanto isto, numa entrevista ao canal France 24, o protegido da Casa Branca e do Eliseu afirmou não haver necessidade de uma nova guerra civil. Bastaria que a CEDEAO recorresse à força apenas para obrigar Gbagbo a sair do Palácio Presidencial, não para combater um grande número de marfinenses que apoiam o historiador amigo de Roland Dumas e de Jack Lang.
Triste folhetim este, o que se arrasta há pelo menos cinco semanas e promete continuar, naquelas terras onde Félix Houphouet-Boigny nasceu em 1905, para vir a ser em 1960 o primeiro Presidente de uma nova República. Jorge Heitor

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