27.1.11

A vergonha de ver Teodoro Obiang à frente da UA

Na cimeira da União Africana (UA) que hoje está a começar em Addis Abeba, a presidência rotativa da organização vai passar para Teodoro Obiang Nguema, ditador da Guiné Equatorial, já por mais de uma vez visitado pelo Presidente contestado da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo.
A passagem do testemunho do Malawi para a Guiné Equatorial poderá agradar a Gbagbo, que tal como Obiang nem sempre tem respeitado muito a Democracia e o Estado de Direito.
A UA vai, uma vez mais, ser representada por alguém que não respeita os direitos humanos e a justiça social, o que não ajuda nada a dar de si uma boa imagem.
José Eduardo dos Santos, Thabo Mbeki, Jacob Zuma, Yoweri Museveni e alguns outros políticos africanos não se encontram receptivos aos apelos da União Europeia para que Gbagbo seja destronado e substituído por Alassane Ouattara, tal como pretende o Fundo Monetário Internacional. E agora, de dia para dia, os desejos de Bruxelas e de Paris parecem cada vez mais difíceis de se concretizar.
A Guiné Equatorial, observador associado da CPLP, chega à presidência rotativa da UA neste fim de semana e poderá inclinar-se a alinhar com Angola no apoio às teses do historiador socialista Laurent Gbagbo, que há um mês parecia preso por um fio mas que lá se vai aguentando.
O Presidente no poder em Malabo desde o ano de 1979, depois de ter derrubado seu tio Francisco Macías Nguema, é daqueles que entende que se pode ficar à frente de um Estado durante 32 ou mais anos, não havendo qualquer necessidade de renovação política.
O poder despótico e a corrupção dos Nguemas não impedem que a Guiné Equatorial fique a representar durante um ano a UA, o que é bem triste, num continente onde os atropelos à legalidade abundam e onde raros são os dirigentes com uma boa política.
O clã de Obiang e o Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE) têm exercido o monopólio sobre a vida política e económica do país, tal como acontece com o MPLA. A mesma família controla a antiga colónia equatorial da Espanha desde 1968, tendo-se substituído à ditadura de Francisco Franco. E é ela que esta semana deverá assumir a presidência rotativa de um continente abundante em recursos naturais mas muito carente de bons políticos.
Semanas depois de a República Centro-Africana ter reabilitado a imagem do imperador Bokassa, irá uma grande parte da África aceitar ser representada por um tirano?.
Portugal, que até 1778 esteve presente nas ilhas de Ano Bom e Fernão Pó, hoje integradas na Guiné Equatorial, não deverá ficar indiferente a tudo o que diz respeito às actividades de Teodoro Obiang Nguema.
Gerhard Seibert, investigador em Estudos Africanos, é uma das personalidades que têm vindo a alertar a comunidade lusófona para as arbitrariedades do sistema político em vigor naquele país, próximo de São Tomé e Príncipe.
As Maurícias, Cabo Verde, o Botswana e o Gana, países africanos de boa governação, deveriam ter uma palavra a dizer sobre o que é que irá ser passar pela vergonha de ver a UA representada por uma pessoa tão sinistra como Obiang. Jorge Heitor

Nenhum comentário: