Continuamos a beber gota a gota este chocolate amargo que nos chega da Costa do Marfim, onde o socialista Laurent Gbagbo e o liberal Alassane Ouattara estariam agora na disposição de se encontrar, segundo disse esta manhã em Abuja o primeiro-ministro queniano Raila Odinga.
Antes de entrar para uma audiência com o Presidente da Nigéria e da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Goodluck Jonathan, criatura que goza das simpatias da Administração Obama, Odinga contou que Gbagbo aceitou ontem a possibilidade de um encontro com o economista liberal Ouattara, que reivindica o direito de lhe suceder à frente dos destinos do maior produtor mundial de cacau.
Horas depois, porém, o conselheiro diplomático de Ouattara desmentiu a hipótese de uma reunião deste com Gbagbo.
Odinga, Pedro Pires e os presidentes da Serra Leoa e do Benim estiveram ontem uma vez mais com aquelas duas figuras cimeiras da cena marfinense.
Gbagbo é o preferido de Jacques Vergès, Roland Dumas, François Loncle, Guy Labert, Henri Emmanueli, Jack Lang e José Eduardo dos Santos. Ouattara o protegido de Nicolas Sarkozy e, por arrastamento, da União Europeia e dos Estados Unidos.
Gbagbo é o homem da Internacional Socialista, que se vai distanciando progressivamente dele. Ouattara, criatura do FMI, mantém-se inflexível, não aceitando compromissos.
Dada a gestão pouco correcta que Gbagbo tem feito, em 10 anos de mandato, dos recursos da Costa do Marfim (cacau, café robusta, petróleo, gás natural...), as instituições de Bretton Woods procuram agora ter um dos seus a gerir um território que é muito importante para tudo aquilo que se passa desde o Senegal até ao Golfo da Guiné.
Tendo criado há mais de um século e meio a Libéria, e aí explorado a borracha, para a Firestone, os norte-americanos querem agora avançar para a vizinha Costa do Marfim, dobrando o Cabo Palma e chegando a Abidjan.
Depois da senhora que conseguiram colocar na presidência da Libéria, os Estados Unidos querem juntar-lhe Ouattara na Costa do Marfim, a fim de entre Monróvia e Yamassoukro se constituir um poderoso eixo de defesa dos interesses ocidentais.
Com fortes peões em Monróvia, Buchanan, Bouaké, Yamassoukro e Abidjan, a América do Norte poderá instalar por esses lados o quartel-general do seu comando africano, o Africom, entretanto ainda a funcionar na germânica Estugarda.
Uma Costa do Marfim amiga da América e da União Europeia é fundamental para controlar os tráficos e os radicalismos que passam pelos territórios da CEDEAO e ameaçam a sua estabilidade, como uma comunidade económica viável.
Esperemos que a comunicação social portuguesa saiba explicar devidamente aos que a lêem e a ouvem tudo o que na verdade está em causa neste jogo marfinense, que dominou para muitos as últimas cinco semanas. Jorge Heitor
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário