23.10.13

Bissau: Horta recomenda acordos com BM e FMI

Bissau (Rádio Galáxia de Pindjiguiti, 21 de Outubro de 2013) - O Representante Especial do Secretário-Geral e Chefe do Gabinete Integrado das Nações Unidas de Apoio à Consolidação da Paz na Guiné-Bissau (UNIOGBIS) anunciou sexta-feira, em Bissau, que depois de realizadas das eleições gerais no país,as Nações Unidas irão colocar técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI) no Ministério das Finanças, para a gestão das finanças públicas. De acordo com José Ramos-Horta, a medida será extensiva às Direcções gerais das Alfândegas e Administração dos Portos da Guiné (APGB) e citou exemplos disso que estão a ser feitos no mundo e por ser uma iniciativa de sentimento generalizado dos organismos internacionais na Guiné-Bissau. “Nas finanças públicas, ter ali seis técnicos internacionais do FMI a trabalhar com o ministro das Finanças, as alfândegas de Bissau, o Porto de Bissau a entregar a um grupo inglês chamado Crown , ele faz a gestão da alfândega e do porto, vocês vão ver, o país vai começas a fazer muito mais receitas”, precisou. “E, isso não é novo. Países maiores que a Guiné-Bissau fazem-no. Na Indonésia, o porto de Djakarta, mil vezes maior que o da Guiné-Bissau e foi mil vezes mais corrupto, o que é que fizeram? Touxeram uma empresa da Suiça para gerir o porto de Djakarta”, destacou. Foi nesse sentido que o diplomata timorense ao serviço das NU na Guiné-Bissau anunciou que a comunidade internacional disponibizará o número de técnicos necessário para negociar com o executivo que sairá das urnas. “A minha receita – recomendação para a Guiné-Bissau é esta: depois das eleições, assinar acordos com a ONU, com o Banco Mundial, o FMI, a União Africana, a CEDEAO e países amigos para colocarem técnicos internacionais em número que for necessário – negociações com o governo desde A a Z”, recomendou. Ramos-Horta avisou que, se isso não fôr feito, depois das eleições tudo continuará na mesma. “Tudo isso tem que ser pensado. Por que senão, vai haver eleições, vai haver um novo governo, nada vai mudar. Os professores continuam a não ser pagos, as alfândegas vão continuar a produzir dinheiro, mas não vai para os cofres do Estado, ficará – não sei, com o ministro ou com a esposa do ministro ou a tia do ministro, os primos. Muitos portos americanos estão nas mãos de singapurenses a gerir os portos. Mas não é uma questão de vergonha não. Faz-se assim mesmo. No meu país, em Timor-Leste, o nosso porto é dos que mais mal funciona. Não é por corrupção, é por preguiça. O pessoal entra às oito da manhã e sai às cinco da tarde, enquanto há trinta barcos à espera lá fora”, referiu. Para se sair desta situação, de forma definitiva, Ramos-Horta propôs que os guineenses abandonem práticas do passado, onde quem ganhava, ganhava tudo e aquele que perdia, perdia tudo passando a ser tratado como cidadão de segunda classe. “As vossas excelências têm uma oportunidade única – uma janela aberta para realizarmos as eleições , formar um novo governo, mas um governo abrangente. Os irmãos da Guiné-Bissau têm que abandonar aquela cultura prática do passado – quem ganha, ganha tudo e quem perde é tratado como cidadão da segunda classe”, lamentou Ramos-Horta. “O partido que ganhar, convida o segundo, o terceiro, o quarto e o Presidente da República e o primeiro-ministro têm que colaborar”, recomendou. Em relação aos militares, José Ramos-Horta disse que estes se tornam vulneráveis logo que eles estiverem metidos na política. “Militares, se é militar, ele está no quartel, trata da saúde dos seus homens e das suas mulheres nos quarteis, e não estão metidos na política ninguém os critica. Quando nós nos metemos na política, somos vulneráveis. Se as forças armadas estão mesmo neutrais, estão nos quartéis cumprindo a constituição que é a defesa das fronteiras, da soberania do país, da integridade territorial, e o povo estará todo atrás, porque o povo, o consenso que existe no povo é isso – a nossa independência é intocável, sagrada, as forças armadas estão para isso”, defendeu. O Representante Especial do Secretário-Geral da ONU falava pela ocasião da cerimónia de encerramento da segunda conferência do Instituto de Defesa Nacional decorrida à semana passada em Bissau.

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