4.10.13
Bissau: Xanana propõe Verdade e Reconciliação
Díli, 03 out (Lusa) - O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, propôs hoje a criação de uma Comissão de Verdade e Reconciliação na Guiné-Bissau para haver um espírito de consenso sobre os interesses futuros do país.
"Vamos levar mensagens de reconciliação, porque sem reconciliação não há maneira de avançarmos em termos de se conseguir o espírito consensual sobre os interesses do país", afirmou em entrevista à agência Lusa Xanana Gusmão.
Xanana Gusmão viajou hoje para Bissau, onde deverá chegar ao início da madrugada de sábado, acompanhado pelo líder da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), Mari Alkatiri, para uma visita de trabalho como presidente do G7+, organização da qual a Guiné-Bissau é Estado-membro.
Esta visita de trabalho à Guine Bissau foi programada em coordenação com o representante do secretário-geral da ONU naquele país e antigo Presidente timorense, José Ramos-Horta.
"Não vamos ensinar, vamos apenas demonstrar por factos e com a nossa própria experiência", disse o primeiro-ministro timorense.
O primeiro-ministro timorense referia-se à Comissão de Verdade e Reconciliação que analisou os crimes, violações dos direitos humanos, mortes e desaparecimentos, prisões, torturas, violações da lei da guerra entre 25 de abril de 1974 e 25 de outubro de 1999 em Timor-Leste.
No final foi feito um relatório com o nome Chega.
"Nós começámos o nosso processo de libertação com guerras internas, matámo-nos uns aos outros, durante toda a guerra cometemos crimes, executamos pessoas, por causa de considerações políticas e ideológicas e contamos tudo ali", disse.
"O relatório daquelas revelações todas tem o título de Chega. Todos nós nos comprometemos a não repetir os mesmos erros e vemos uma certa similaridade na Guiné-Bissau", acrescentou.
Segundo Xanana Gusmão, a Guiné-Bissau precisa de uma "amostra de uma realidade similar" para conseguir corrigir tudo.
"Não é o momento exato para todos dizermos não. É o momento exato de chegarmos lá, darmos a mão e dizermos aos políticos, aos militares, à sociedade civil, aos partidos políticos que chegou o tempo para reconsiderarem, repensarem em toda a prática anterior, porque só um reconhecimento honesto do que aconteceu até agora" pode alterar as coisas, afirmou.
Questionado sobre o que iria transmitir ao chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau, general António Indjai, Xanana Gusmão disse que não vai prometer "mundos e fundos".
"O que posso prometer é que caso o nosso exemplo seja considerado pelas Forças Armadas e o general Indjai, eu apreciaria imenso, porque isso nos dá uma margem de manobra imensa para um apoio", afirmou.
Para Xanana Gusmão, é preciso perceber os problemas e ajudar as forças armadas guineenses a olhar para o futuro numa perspetiva de reforma, mas é também preciso um "compromisso político consciente de que o resultado das eleições será respeitado".
A 12 de abril de 2012, na véspera do início da segunda volta para as eleições presidenciais da Guiné-Bissau, na sequência da morte por doença do Presidente Malam Bacai Sanhá, os militares derrubaram o Governo e o Presidente.
A Guiné-Bissau está a ser administrada por um Governo de transição, que pretende realizar eleições ainda este ano.
A CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) determinou que o período de transição na Guiné-Bissau (iniciado na sequência do golpe de Estado de abril de 2012) tem que terminar antes do final deste ano com a organização de eleições gerais.
As autoridades guineenses de transição têm repetido que querem realizar os escrutínios na data marcada pelo Presidente de transição, Serifo Nhamadjo, mas que não têm dinheiro, que, dizem, foi prometido pela comunidade internacional.
Várias vozes da classe política, o Governo e o próprio Presidente têm admitido a possibilidade de as eleições serem adiadas por falta de verbas.
Lusa
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário