23.4.14

Os 8.000 combatentes do velho PAIGC

Os guerrilheiros do PAIGC, na luta contra a presença de Portugal em terras guineenses, deviam ser de 7.500 a 8.000, diz-nos o embaixador Francisco Henriques da Silva no seu livro Crónica dos (Des)feitos da Guiné, lançado em Setembro de 2012 pelo grupo Almedina.
Já a Wikipédia nos fala de 10.000 combatentes do PAIGC, perante os 32.000 portugueses que teriam estado a combater por uma Guiné Melhor, segundo o lema do governador António de Spínola.
Fosse como fosse, 7.500, 8.000 ou 10.000, os homens de Amílcar Cabral, de Aristides Pereira, de Luís Cabral, de Pedro Pires e de Nino Vieira conseguiram fazer com que Portugal perdesse o pé no solo guineense.
Tendo em conta que a esperança de vida na Guiné-Bissau não chega sequer aos 53 anos, a grande maioria dos antigos combatentes do PAIGC (gente que no 25 de Abril andava pelos 19/22 anos) já terá falecido, não fazendo agora sentido aparecer tanta gente a vangloriar-se de ter andado na guerrilha.
Quando as Forças Armadas da Guiné-Bissau querem mandar em tudo e todos, deve recordar-se que muitos dos seus elementos não podem de forma alguma reivindicar a categoria de antigos combatentes pela independência.
Oficiais generais guineenses que tenham hoje em dia 56 ou 57 anos ainda eram adolescentes quando as tropas portuguesas se retiraram da Guiné-Bissau, pelo que não parece muito viável que tenham andado na luta armada ou que nela houvessem desempenhado qualquer papel de relevo.
Só uma minoria de militares guineenses, agora com 64/66 anos, poderá com toda a razão de ser afirmar que andou, de armas na mão, a lutar pela independência do seu país, enquanto outros, muitos outros, alguns anos mais novos, correm o risco de ser tidos como oportunistas.
Este é um dos muitos equívocos que importa esclarecer, sempre que se fala da Guiné-Bissau e da extraordinária apetência dos seus militares para mandar em tudo e em todos, só porque têm uma arma na mão; ou acesso aos paióis.
A geração de Nino, de Ansumane Mané, de Osvaldo Vieira, de Francisco Mendes (Chico Té)...já não existe. É preciso que todos tenhamos consciência disso.
O tempo agora é de gente mais nova, quiçá mais instruída, que saiba ultrapassar muitas mazelas do passado e começar quase tudo de novo, como se ainda estivéssemos no início da década de 1960 e no arranque de uma luta que por tantos foi traída.
Não mais Bubo Na Tchuto, não mais António Indjai, não mais Papá Camará. Não mais! Jorge Heitor, 23 de Abril de 2014

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