Encomendou el-rei D. João, o Terceiro, a S. Francisco Xavier o informasse do estado da Índia, por
via de seu companheiro, que era mestre do Príncipe; e o que o santo escreveu de lá, sem nomear
ofícios nem pessoas, foi que o verbo rapio (19) na Índia se conjugava por todos os modos. A frase
parece jocosa em negócio tão sério, mas falou o servo de Deus como fala Deus, que em uma palavra
diz tudo. Nicolau de Lira, sobre aquelas palavras de Daniel: Nabucodonosor rex misit ad
congregandos satrapas, magistratus et judices(20), declarando a etimologia de sátrapas, que eram os
governadores das províncias, diz que este nome foi composto de sat e de rapio: Dicuntur satrapae
quasi satis rapientes, quia solent bona inferiorum rapere: Chamam-se sátrapas, porque costumam
roubar assaz. E este assaz é o que especificou melhor S. Francisco Xavier, dizendo que conjugam o
verbo rapio por todos os modos. O que eu posso acrescentar, pela experiência que tenho, é que não só
do Cabo da Boa Esperança para lá, mas também das partes daquém, se usa igualmente a mesma
conjugação. Conjugam por todos os modos o verbo rapio, porque furtam por todos os modos da arte,
não falando em outros novos e esquisitos, que não conheceu Donato nem Despautério. Excerto do Sermão do Bom Ladrão, proferido em 1655 pelo Padre António Vieira
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