1.10.13

Bissau: "O Senegal é o maior inimigo"

"O Senegal, por exemplo, é o nosso maior inimigo, e este golpe de 12 de Abril não foi para depor o Cadogo (Carlos Gomes Júnior, antigo primeiro-ministro). Foi por causa do trabalho que Angola vinha fazendo, por exemplo no Porto de Buba (a cerca de 200 km de Bissau), que seria certamente o maior da África Ocidental e viria naturalmente a eclipsar a importância do Porto de Dakar. É um projecto antigo que se ia concretizar com a cooperação Angolana, e os senegaleses, sempre que ouvem falar disso, começam a “dar ataques”. O Senegal nunca quis isso, e fez intrigas para provocar o golpe de Estado e, assim, comprometer os investimentos angolanos e promover a saída da MISSANG (Missão Militar Angolana na Guiné-Bissau) do país. Esses investimentos e a MISSANG eram uma forma de Angola demonstrar gratidão pelo que deve à Guiné Bissau, algo de que muita gente não tem sequer noção. A Guiné foi um dos principais palcos logísticos da guerra em Angola, para onde enviou milhares de homens para combaterem os sul-africanos . Quer dizer que a MISSANG era uma forma de Angola demonstrar a sua gratidão para com a Guiné-Bissau… Nem mais. E o Fidel Castro disse isso mesmo ao Carlos Gomes Júnior em Cuba. Derramou-se sangue guineense em Angola, assim como se derramou sangue cabo-verdiano na Guiné. A verdadeira vocação da MISSANG era a reforma das Forças Armadas guineenses, um problema que se arrasta desde a independência e nunca foi resolvido, e é por isso que o país vive a situação que todos conhecem, protagonizada pelos militares. Portanto, nós só teríamos a ganhar se puséssemos de lado esse orgulho de merda que nem sei onde fomos buscar e aceitássemos a ajuda que nos chegava de Angola. Os militares criaram um ódio visceral, não só em relação a Angola mas, até, com Cabo Verde, mas felizmente esse ódio não é retribuído. Existem mais de 9 mil guineenses a viver em Cabo Verde, 8 mil dos quais em situação perfeitamente legal… E as autoridades cabo-verdianas têm promovido frequentemente campanhas de legalização de emigrantes guineenses indocumentados, o que ainda não aconteceu com qualquer outra comunidade presente no país. Isso, certamente, não pode ser visto com um sinónimo de ódio em relação aos guineenses… Muito pelo contrário. Por isso, se os militares pensam que tudo o que têm feito e dito contra Cabo Verde e Angola pode pôr em causa as afinidades e a amizade entre os nossos povos, estão completamente enga nados. Mas devo ser justo e dizer que não é toda a instituição militar que está envolvida nestes desmandos. Há oficiais sérios e honestos, que apenas compactuam porque têm medo . Existem outros, que acabaram por abandonar o país e não estão envolvidos nas intentonas nem no tráfico de drogas". (Parte de uma entrevista de António Aly Silva ao jornal angolano PAÍS)

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