28.5.12
Bissau: negociatas transcontinentais
Bissau, Guiné-Bissau, 23 Jul – O interesse da Geocapital, de Stanley Ho, em ter um banco na África de língua portuguesa era há muito conhecido mas, sem sucesso nas primeiras abordagens a Angola e Moçambique, o “rei” do jogo de Macau chegou agora à Guiné-Bissau. A “newsletter” Africa Monitor avança que a Geocapital comprou 60 por cento do Banco da África Ocidental (BAO), onde terá entre os seus associados o empresário guineense Carlos Domingues Gomes. Do capital do BAO saem Montepio Geral e Banco Efisa, duas instituições financeiras portuguesas, e ainda Sequeira Braga e Carlos Gomes Júnior, político e ex-primeiro ministro da Guiné-Bissau, além de empresário. O banco guineense, de acordo com a mesma fonte, é dos poucos bancos comerciais a operar no país, e tem a mais-valia de poder ser utilizado na expansão para outros países da região. Isto porque, à luz dos acordos existentes, está autorizado a abrir sucursais nos países-membros da União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA) – Benim, Burkina-Faso, Costa do Marfim, Mali, Níger, Senegal e Togo. Este é o segundo negócio de monta conhecido à Geocapital na Guiné-Bissau, depois da concessão de um complexo turístico com casino na ilha Caravela, no arquipélago dos Bijagós, considerada Reserva Ecológica Biosférica pela UNESCO. Stanley Ho chegou a apresentar em Cabo Verde um projecto semelhante ao almejado para os Bijagós, de hotel e casino, mas este não foi aprovado pelas autoridades, que invocaram reservas quanto ao local escolhido, um ilhéu fronteiro à capital, Praia. O complexo da ilha Caravela foi objecto de uma visita a Bissau de Almeida Santos, o advogado e ex-presidente da Assembleia da República portuguesa, que tem surgido ao lado de Ho e da Geocapital noutras “frentes”, nomeadamente em Moçambique, onde a “holding” tem importantes projectos no Vale do Zambeze. Antes da concretização do negócio na Guiné-Bissau, a Geocapital já tinha tentado a abordagem aos mercados financeiros de Moçambique e Angola. No caso angolano, a empresa virada para investimentos na África de língua portuguesa terá travado o investimento na criação do Banco Angolano de Negócios e Comércio (BANC) depois de lhe ter sido recusada a atribuição de uma licença de exploração de jogo, segundo adianta o Africa Monitor. Em concreto, a Geocapital pretendia autorização para explorar um casino no novo hotel de cinco estrelas “Rosa Linda”, empreendimento cuja primeira pedra foi lançada em Junho. No BANC, a empresa de Stanley Ho e outros investidores tinha como parceiros influentes personalidades angolanas, como José Pedro de Morais e Kundi Paihama. Este último, militar de carreira, explora dois pequenos casinos em Luanda, nos hotéis Tivoli e Marinha. O projecto do BANC estava virado para a comunidade chinesa, prevendo a intervenção em investimentos no sector privado, através de concessão de crédito ou tomada de participações, um modo de funcionamento semelhante ao da linha de crédito criada pelo governo chinês para Angola. Em Moçambique, a Geocapital esteve perto da compra do Banco de Desenvolvimento e Comércio (BDC), relatando então a imprensa moçambicana que Almeida Santos, na condição de advogado da Geocapital, teria inclusivamente contactado o presidente moçambicano, Armando Guebuza, no sentido obter uma aprovação célere à operação, então dependente do Banco de Moçambique. Depois da ruptura das negociações e afastamento da Geocapital, os portugueses do Montepio Geral passaram os sul-africanos do First National para a frente no negócio. A Geocapital chega à Guiné-Bissau numa altura em que o país procura emergir de uma prolongada crise política, contando para já com importante apoio da comunidade internacional, nomeadamente da União Europeia e da China. Recentemente, a Guiné-Bissau recebeu o compromisso de ajudas num montante total de que supera 21 milhões de euros, da parte de cinco entidades diferentes, incluindo 4 milhões da China, que estabeleceu um protocolo de apoio financeiro com o país. Viu ainda o Fundo Monetário Internacional (FMI) prometer que vai tentar mobilizar “com carácter de urgência” 30 milhões de dólares, junto da comunidade internacional, para ajudar às necessidades imediatas e à reconstrução do país. O BAO deverá contar com forte concorrência do banco africano Ecobank, que recentemente começou a abrir sucursais na Guiné-Bissau. Esta instituição financeira firmou recentemente com o governo guineense um acordo que prevê que passe a receber os pagamentos efectuados nas alfândegas do país, que representam perto de 75 por cento das receitas fiscais. Esta associação tem em vista aumentar a colecta e introduzir maior transparência, rigor e disciplina no processo. (macauhub) Macauhub Julho 2007
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