11.5.12
Bissau: o "Presidente" dos 15 por cento
O novo Presidente da República interino da Guiné-Bissau, Serifo Nhamadjo, nomeado pelos militares e pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), após o golpe de Estado de 12 de abril, era um dos políticos menos conhecidos do país até desafiar o seu partido nas presidenciais que acabou por perder.
Discreto e por vezes parecendo tímido, Manuel Serifo Nhamadjo, que desempenhava o cargo de vice-presidente da Assembleia Nacional, era conhecido sobretudo pelos amantes do futebol por ter sido presidente de dois clubes, o Benfica de Bissau e o Desportivo de Mansaba, e ainda por ter passado pelo cargo de dirigente da federação de futebol.
Na política, porém, apesar de ser membro e dirigente do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, no poder), muitos guineenses desconhecem que Serifo Nhamadjo é deputado desde a primeira vez que se realizaram eleições multipartidárias no país, em 1994.
Foi sempre eleito deputado pelo PAIGC, partido com o qual se incompatibilizou, ao ponto de se ter apresentado como candidato independente às presidenciais de 18 de março por discordar da forma como Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro e líder do partido, foi escolhido para ser o candidato oficial.
"O método não foi nem justo nem transparente, por isso decidi apresentar-me diretamente ao povo guineense para que diga quem pode ser o melhor Presidente para o país", argumentava no dia em que anunciou a sua candidatura.
Passada a primeira volta das presidenciais, perdeu a aposta. Carlos Gomes Júnior ganhou a votação, o líder do PRS, Kumba Ialá, ficou em segundo e Serifo Nhamadjo em terceiro, com 15 por cento.
Após terem sido conhecidos os resultados eleitorais, com outros quatro candidatos derrotados, incluindo Kumba Ialá, contestou o escrutínio alegando fraude eleitoral.
O golpe de Estado realizado no passado 12 de abril voltou a colocá-lo na rota do poder, tendo sido indicado para o cargo de Presidente da República interino, cargo anteriormente ocupado por Raimundo Pereira, que se encontra actualmente na Costa do Marfim, tal como Carlos Gomes Júnior.
Com fama de dialogante, Serifo Nhamadjo, que completou 54 anos no dia 25 de março, elegeu "o combate aos males" que enfermam a sociedade guineense como o seu principal adversário se vencesse o escrutínio de 18 de março.
Nhamadjo assume-se como o herdeiro legítimo do legado político do Presidente guineense Malam Bacai Sanhá, falecido em finais de dezembro, de quem diz pretender prosseguir a senda da pacificação e da reconciliação. Aliás, até ao golpe, ele também era o presidente executivo da comissão da reconciliação nacional, um processo que fora patrocinado por Bacai Sanhá.
De etnia Fula, Manuel Serifo Nhamadjo é formado em contabilidade e análise em Lisboa.
O seu currículo diz que fala e escreve o português (muito bem), o francês e o inglês dentro de um nível do quadro europeu de referência (Cecr).
Homem de poucas falas, Nhamadjo, de confissão muçulmana, casado e pai de cinco filhos, destacou-se também por ter sido dos primeiros quadros do país a constituir uma empresa privada de construção civil, o "Nô kumpu" que em português significa (construamos).
A empresa ainda fez algumas obras públicas no país, mas deixou de existir há muitos anos.
MB/HB
Lusa –
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