11.5.12

Bissau: um homem de Harvard

Paulo Gomes, director do Banco Mundial durante 10 anos, defende a transformação das empresas africanas em líderes regionais. Para passar da teoria à prática, este economista guineense, formado em Harvard, nos EUA, defende que África deve seguir o exemplo de países do Sueste Asiático, como a Malásia e Singapura. Por isso mesmo, é um dos promotores do fórum de negócios que se vai realizar entre 5 e 6 de Abril neste último país. “As empresas podem ser agentes eficazes e líderes de integração regional, ajudando a suprimir as fronteiras artificiais através da divulgação de boas práticas empresariais”, sustenta Paulo Gomes, de 45 anos, actualmente administrador do Ecobank, com sede no Togo. Qual é o objectivo da iniciativa de desenvolver empresas líderes em África e como é que este conceito pode ser posto em prática? Nasceu de uma certa frustração minha em relação ao papel que as empresas podem desempenhar no Desenvolvimento de um determinado país. <!--[endif]--> Pensa-se muito no desenvolvimento, mas apenas em termos de governo e onde este surge como o elemento indispensável para o alcançar. <!--[endif]--> Ora, nós achamos que existem coisas que podiam andar mais rapidamente nos nossos países se usássemos as empresas como veículo adicional de transformação. Como é que isso se concretiza quando, em muitos casos, as empresas são apenas um braço dos respectivos Estados? <!--[endif]--> Muitas vezes são o braço do Estado ou, muitas vezes, quando existem, não têm um quadro de incentivos que lhe permitam crescer. Mas algumas empresas conseguiram furar o esquema e crescer além do espaço onde nasceram. Um exemplo é o Grupo Ecobank, que surgiu no Togo, mas conseguiu rapidamente, através de um grupo de empresários, conquistar o mercado do Oeste africano, e agora é o banco com maior presença no continente. Neste momento,<!--[endif]--> o banco tem mais de 29 nacionalidades, mais de 300 mil accionistas, a grande maioria africanos, e consegue contaminar os países onde se instala com boas práticas. <!--[endif]--> A ideia é replicar este tipo de modelo? <!--[endif]--> Se nós conseguirmos, em África, encorajar companhias em várias Áreas que expandam as suas asas em diversos países, e criar uma massa crítica de accionistas africanos, vamos ser capazes de acelerar o processo de aproximação e de melhores parcerias comerciais entre os países africanos. Podemos fazer isso nas áreas dos seguros, das farmacêuticas, da logística e entre mais sofisticadas como as telecomunicações. Como é que é possível conciliar interesses aparentemente antagónicos de diferentes potências africanas como a África do Sul, Angola ou a Nigéria? <!--[endif]--> Essa conciliação faz-se na prática. A Sonangol, por exemplo, é um campeão na área da energia. Está na Costa do Marfim, na Serra Leoa e a <!--[endif]-->ir para outros países. O que a Sonangol está a fazer é igual ao que a Petronas, da Malásia, tem feito. Os africanos, em termos empresariais, têm que pensar estrategicamente “out of the box”. O mercado internacional não foi concebido para proteger as companhias africanas. Cabe aos africanos desenvolverem quadros que encorajem as empresas a crescer. Porque se não conseguirmos criar esse ambiente, África não terá a sua classe média. E sem esta não é possível estabilidade. Ou seja, além de uma questão financeira, está também em jogo a sustentabilidade dos nossos Estados. <!--[endif]--> A conferência que vamos fazer em Singapura pretende promover parcerias entre empresas de África e do Sueste asiático. JORNAL de Negócios, Março 2010

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