15.4.12

Bissau: os presidentes sombra (os militares)

O que é que há de errado na Guiné? Nada, uma vez que o erro e o guineense fazem parte do quotidiano da cegueira voluntária. Contudo, muita coisa mudou no guineense, desde o camponês ao primeiro dos mais intelectuais que o chão guineense gerou. A verdadeira mudança começou em Outubro do ano passado quando o general Nino Vieira foi oficialmente investido. O que é que aconteceu? O que aconteceu é que os guineenses estavam habituados a ter um presidente forte e omnipresente nos assuntos da nação. Desta vez não está acontecer, não porque o general se tornou um bom democrata, mas porque está a perder o poder cada vez mais.
As alianças são pagas e neste momento o general está a pagar muito mais do que estava à espera que lhe cobrassem. Há muito que vínhamos a dizer que o general não será o único presidente na Guiné, pois tinha que fazer face aos presidentes sombras, sobretudo porque se meteu numa aliança contra-natura. O ninismo está de volta, mas está fora dos parâmetros desejados por Nino. Hoje, quem dita as leis em Bissau não são nem os magistrados nem a constituição, mas sim o general Baptista Tagme Na Waie.
A ala do Nino revelou-se a mais fraca da aliança, por isso, tarde ou cedo, estará confinada a gerir a sua pequena horta presidencial, isto é, será muito mais fácil ser corrido a tentar desafiar o general Baptista Tagme Na Waie. Há um perdão flutuante entre o Nino e o Tagme, e quer um quer outro, sabem que a sua factualidade não passa de um desenho quimérico, por isso, ninguém se arriscará a transpor a fronteira consensual, sobretudo, o mais fraco nunca sonhará a fazê-lo, embora objectivamente falando, com o Nino nunca se deve dizer nunca.
A insolência verbal de Tagme destas últimas semanas revela simplesmente que a Guiné está sob a sua alçada, resta saber se os fundamentos desta prepotência têm alicerces indestrutíveis. Convém contudo lembrar que Ansumane Mané também falava de “na ratcha boca”, mas acabou por ir parar onde todo o mundo sabe. O próprio Nino em tom de ameaça dizia, que até os macacos no mato sabem quem ele é, algo que certamente, hoje não dirá. A Guiné não é dos “matchos”, mas dos politicamente estrategas. INÁCIO VALENTIM 10 de Abril de 2006

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