25.4.12

Notícias sudanesas

Raúl M. Braga Pires, em Rabat (www.expresso.pt) Quarta feira, 25 de abril de 2012 Nove meses após a independência do Sudão do Sul, o inevitável aconteceu. O Norte islâmico, de Omar Al-Bashir, declarou guerra ao secessionista Sul cristão, de Salva Kiir. A equação é simples, tem petróleo, sendo também, de certa forma, mais uma das consequências da queda do regime de Muammar Kadhafi. Quanto ao petróleo, a maioria das reservas encontra-se no actual território do Sudão do Sul, mas o escoamento para os mercados está dependente dos pipelines e das refinarias do norte, que ligam esta região Sul ao Mar Vermelho. Quanto à queda do regime de Kadhafi, fez com que rebeldes do Movimento pela Justiça e Igualdade (MJI), um dos muitos grupos de mercenários a soldo do regime do Coronel, regressasse ao Sudão, país d'origem, carregados d'armas, experiência de combate e de caixas de dinheiro, onde são membros da Frente Revolucionária do Sudão (FRS), a qual federa todos os grupos (lista completa no final*) que combatem o governo central de Cartum, no Darfur e, a sua milícia Janjaweed. A FRS, para além do Darfur, também actua na região do Kordofão do Sul (no Sudão "do Norte"), rica em petróleo, na linha de fronteira entre os dois países, sendo aliada do Exército do Sudão do Sul. Foi aliás esta a razão invocada por Omar Al-Bashir, para Cartum declarar guerra a Juba. O Sul anda a fomentar e a apoiar grupos rebeldes no Norte, hostis a Cartum, disse. Do ponto de vista da geopolítica, a China aparece como o principal player regional, já que 60% do petróleo sudanês (antes da secessão) é comprado por este Estado, sendo que 90% da antiga produção total está no actual Sudão do Sul e, 75% desta na região fronteiriça de Heglig, agora em disputa e que o Sul diz pertencer ao Estado de Warrap e o Norte, ao Estado do Kordofão do Sul. Salva Kiir, em visita à China de 24 a 28 de Abril, tenta convencer um aliado do Sudão de Omar Al-Bashir, há mais de 20 anos, a mudar a agulha, o que deverá ser uma tarefa quase impossível, apesar das reservas no Sudão do Sul. A China trata-se do primeiro parceiro económico do Sudão "do Norte", do país que equipou militarmente Cartum na guerra civil contra o Movimento Popular de Libertação do Sudão (MPLS), que lutava pela secessão do Sul e, a China, também não permitiu o isolamento diplomático do "Norte", aquando da acusação, em 2009, de genocídio no Darfur (ao Presidente Omar Al-Bashir) pelo Tribunal Penal Internacional. O argumento, certamente apresentado por Kiir, que se baseia no acordo com o Quénia, de construção de um pipeline que desaguará no porto de Lamu, no Índico, não deverá convencer, já que levará no mínimo uns 3 anos a construir, para além de actualmente o orçamento do Sul se encontrar 98% dependente da venda de petróleo. Apesar de tudo isto, a China, sem dúvida que se apresenta como o Estado com maior influência para pressionar um entendimento entre ambos os Estados, para que também possa continuar a beneficiar dos fluxos do petróleo do Sul, que entretanto deixaram de chegar a Porto Sudão, no Mar Vermelho. Do lado oposto, o Sudão "do Norte", tem os apoios políticos e financeiros da Arábia Saudita e do Qatar, sendo que esta situação de casus belli certamente terá repercursões noutros cenários também recentemente criados pela queda do regime de Kadhafi e não só, como por exemplo "nos nortes" da Nigéria, do Niger, do Mali, da Costa do Marfim, mas também na Somália. *A FRENTE REVOLUCIONÁRIA DO SUDÃO (FRS), é uma coligação de grupos rebeldes nas províncias/estados do Darfur, Kordofão do Sul e Nilo Azul: - Movimento pela Justiça e Igualdade (MJI); - Movimento de Libertação do Sudão (MLS); - Movimento de Libertação do Povo do Sudão, Sector Norte (MLPS-N). http://expresso.sapo.pt/maghreb--machrek=s25484#ixzz1t2b8vtYN

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