Bissau, 09 abr (Lusa) - O Presidente angolano decidiu pôr fim à missão
militar que tinha na Guiné-Bissau, a Missang, disseram hoje as Forças Armadas (FA) guineenses, negando ter qualquer responsabilidade nessa decisão.
No dia em que chega a Bissau o ministro das Relações Exteriores de Angola,
Georges Chicoti, o porta-voz das FA da Guiné-Bissau, o tenente-coronel Dabana
na Walna, deu uma conferência de imprensa para esclarecer a posição dos
militares sobre a polémica que tem envolvido a Missang.
Na semana passada, no dia 03, o ministro da Defesa de Angola, Cândido
Pereira Van-Dúnem, fez uma visita a Bissau para entregar ao Presidente interino,
Raimundo Pereira, uma mensagem de José Eduardo dos Santos, cujo teor não
foi divulgado, mas que se prendia com a Missang.
Hoje, Dabana na Walna explicou aos jornalistas que na reunião realizada
no dia 03 "o ministro da Defesa deu a conhecer aos presentes a decisão do
Presidente angolano de pôr fim à Missang", acrescentando que o Governo de
Bissau, no dia seguinte, tentou imputar às Forças Armadas a responsabilidade
pelo fim da Missang.
"Não é postura normal um militar dar conferências de imprensa em democracia,
devia confiar ao Governo a tarefa da defesa do prestígio das FA e do decoro
dos militares, mas estamos perante uma situação em que é o próprio Governo,
que devia ser o chapéu político dos militares, publicamente a imputar responsabilidades
às FA pelo fim da Missang em Bissau", começou por dizer o responsável.
O chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), António
Indjai, "nunca exigiu o fim da Missang", garantiu Dabana na Walna.
Na verdade, disse o também chefe do gabinete do general Indjai, o CEMGFA
tomou uma posição sobre a Missang no dia 20 de março, no mesmo dia em que
recebeu em audiência o embaixador de Angola em Bissau, general Feliciano
dos Santos, que lhe foi perguntar "se estava a forjar um golpe de Estado",
visto ter informações de Angola nesse sentido.
Nesse mesmo dia, contou o porta-voz, o CEMGA pediu uma reunião de urgência
com o Presidente da República e com o Governo, a quem deu a conhecer o teor
da conversa e "todos ficaram chocados".
António Indjai teria então pedido ao Presidente para que diligenciasse
junto do Governo de Angola para que a Missang entregasse os meios bélicos
que dispõe em Bissau ou então que os devolvesse a Angola.
É que, continuou Dabana na Walna, desde 2011 que a Missang "se tem vindo
a reforçar com armamento". "Perguntámos o porquê e a resposta foi que esse
material era para as FA", disse, acrescentando que contudo tal armamento
nunca foi entregue aos militares guineenses e que depois de várias respostas
a Missang disse que tal competiria ao Governo angolano decidir.
Depois do levantamento militar de 26 de dezembro passado de novo a Missang
reforçou-se com materiais bélicos e quando da rotação dos militares chegaram
"tropas especiais com coletes à prova de bala", disse o porta-voz, que acrescentou:
"mas a gota de água foi a visita do embaixador ao CEMGFA".
Dabana Na Walna garantiu que os acordos que criaram a missão de cooperação
técnico-militar angolana não preveem que Angola tenha material bélico em
Bissau e que aquilo que o CEMGFA exigiu foi que esse material ou fosse entregue
às FA ou então que fosse devolvido.
Segundo o responsável, se o Governo quer uma missão militar armada angolana
pode negociar com o seu homólogo de Luanda, mas o atual acordo não prevê
o envio de armas.
O porta-voz, que frisou que foi o governo angolano que decidiu acabar
com a Missang, disse também que parece haver da parte do Governo guineense
"uma tendência" para "arrastar as FA para a questão eleitoral".
A Guiné-Bissau teve eleições presidenciais dia 18 de março mas cinco
candidatos não reconhecem os resultados e o segundo mais votado, Kumba Ialá, recusa-se a participar na segunda volta, a 22 de abril.
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