14.4.12

Bissau: a presença angolana

A empresa estatal angolana do ramo
dos petróleos, a Sonangol, injectou
cerca de 300 milhões de dólares
norte-americanos na Bauxite Angola,
a empresa de capitais guineenses e
angolanos que vai explorar bauxite na
histórica região de Boé, onde em 24 de
Setembro de 1973 foi unilateralmente
proclamada a independência da Guiné-
Bissau.
Angola tem assim a maioria dos 500
milhões de dólares necessários para
extrair anualmente três milhões de toneladas
de bauxite, no maior investimento
até hoje feito no país de Amílcar e de
Luís Cabral.
Os depósitos das colinas de Boé, a
240 quilómetros da capital, são uma continuação
das grandes reservas de bauxite
existentes na vizinha República da Guiné,
o maior exportador mundial desse minério,
a partir do qual se faz o alumínio.
Calcula-se que a Guiné-Bissau tenha
110 milhões de toneladas de bauxite,
pelo que a exploração está assegurada
para os próximos 35 anos.
Os planos existentes a este respeito
passam por um porto de águas profundas
na localidade de Buba e um caminho-de-ferro
e estrada daí até ao Boé; bem como uma
central hidroeléctrica no Saltinho, em pleno
rio Corubal. Há mais de 28 anos que
os guineenses sonham com o projecto do
Saltinho, só que não tinham meios para o
concretizar.
A apresentação do estudo de viabilidade
técnica e económica do Projecto
de Desenvolvimento do Complexo de
Mineração e Industrialização de Bauxite
na Guiné-Bissau foi feita ainda durante
a presidência de João Bernardo “Nino”
Vieira, assassinado há dois anos, num
dos episódios de violência em que o país
é, infelizmente, fértil.
Os 103 quilómetros entre Buba e Madina
do Boé deverão constituir a espinha
dorsal do desenvolvimento de um dos
territórios que é ainda hoje um dos mais
pobres e turbulentos do mundo, ainda
pouco tendo conseguido efectuar do
muito que ambicionava quando se tornou
independente. Mas já diziam os antigos
europeus que “Roma e Pavia não se
fizeram num dia”; há que dar tempo ao
tempo. Quando os comboios por ali circularem,
a Guiné-Bissau poderá muito bem
vir a ser bem diferente, e melhor, do que
o é actualmente. Tenhamos esperança.
Peritos holandeses e soviéticos estudaram
no passado todo o potencial da
região de Boé, mas só agora o interesse
de Angola veio a permitir concretizar
coisas de que há muito se falava. E Luanda
marca assim pontos no seu desejo
de ser reconhecida internacionalmente,
muito em especial nas terras da África
Ocidental.
Os angolanos procuram reinventar-se
e dar cartas em vários domínios, desde o
económico ao diplomático, passando pelo
cultural. De modo que não admira que
comecem a ser vistos como a potência
tutelar da Guiné-Bissau, ao mesmo tempo
que também têm uma forte palavra
a dizer sobre a evolução da Costa do
Marfim.
Isto para já não falar de territórios
de onde desde há muito são influentes,
como os dois Congos e São Tomé e
Príncipe.
No caso guineense, o regime de José
Eduardo dos Santos também vai ajudar a
reestruturar o sector da Defesa e da Segurança,
complicada tarefa que a União
Europeia tentou e não conseguiu.
Quando passarem definitivamente à
reforma todos os antigos combatentes,
os homens que há 38 anos andavam
no mato, a lutar pela independência, a
Guiné-Bissau terá, enfim, a oportunidade
de nos brindar com uma nova classe de
políticos, mais próprios do século XXI. Jorge Heitor, revista Prestígio, de Maputo, Maio de 2011

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